domingo, 23 de julho de 2017

QUATRO FATORES - ESCOLHENDO O AMBIENTE APROPRIADO PARA A CORREÇÃO -

4-QUATRO FATORES

Mas se não somos nada além de produtos de nosso ambiente, e se não existe real liberdade no que fazemos, no que pensamos, no que queremos, podemos ser considerados responsáveis por nossas ações? E se não somos responsáveis por elas, quem é?
Para respondermos estas perguntas precisamos primeiro entender os quatro fatores que nos compõem, e como podemos trabalhar com eles para adquirirmos a liberdade de escolha. De acordo com a Cabalá, somos todos controlados por quatro fatores:
1. A “base”, também chamada de “matéria primária”;
2. Atributos imutáveis da base;
3. Atributos que mudam através de forças externas;
4. Mudanças no ambiente externo.
Vejamos o que eles significam para nós.
1. A Base, a Matéria Primária
Nossa essência imutável é chamada de “a base.” Eu posso estar feliz ou triste, pensativo, nervoso, sozinho ou com os outros. Com qualquer ânimo e em qualquer sociedade, o eu básico nunca muda.
Para entendermos o conceito de quatro fases, pensemos no desenvolvimento e na morte das plantas. Considere um ramo de trigo. Quando uma semente de trigo se decompõe, ela perde sua forma completamente. Mas mesmo que ela tenha perdido sua forma completamente, apenas um novo ramo de trigo irá emergir daquela semente, e nada mais. Isto é assim porque a base não se alterou; a essência da semente permaneceu aquela do trigo.
2. Atributos Imutáveis da Base
Assim como a base é imutável e o trigo sempre produz novo trigo, a maneira em que a semente de trigo se desenvolve é também imutável. Um único caule pode produzir mais de um caule no novo ciclo de vida, e a quantidade e a qualidade dos novos germes pode mudar, mas a própria base, a essência da forma anterior do trigo, permanecerá inalterada. Resumindo, nenhuma outra planta pode crescer de uma semente de trigo
além do trigo, e todas as plantas de trigo sempre passarão pelo mesmo padrão de crescimento do momento em que germinarem ao momento em que secarem.
Similarmente, todas as crianças humanas amadurecem pela mesma seqüência de crescimento. É por isso que nós (mais ou menos) sabemos quando uma criança deverá começar a desenvolver determinadas habilidades, e quando ela poderá começar a comer determinados alimentos. Sem este padrão fixo, nós não poderíamos traçar a curva de crescimento dos bebês humanos, ou de nenhuma outra coisa, no que diz respeito ao assunto.
3. Atributos que Mudam através de Forças Externas
Mesmo que a semente permaneça o mesmo tipo de semente, sua aparência pode mudar como resultado das influências ambientais tais como a luz do sol, o solo, os fertilizantes, a umidade, e a chuva. Assim, enquanto o tipo de planta permanece sendo o trigo, sua “embalagem”, os atributos da essência do trigo, podem ser modificados através dos
elementos externos.
Similarmente, nossos ânimos mudam na companhia de outras pessoas ou em diferentes situações mesmos que os nossos egos (bases) permaneçam os mesm os. Algumas vezes,
quando a influência do ambiente é prolongada, ela pode não apenas mudar nosso ânimo, mas até nosso caráter. Não é o ambiente que cria novos traços em nós; apenas acontece que o estar no meio de um determinado tipo de gente encoraja certos aspectos de nossa natureza a tornarem-se mais ativos do que eram antes.
4. Mudanças no Ambiente Externo
O ambiente que afeta a semente é em si afetado por outros fatores externos tais como as mudanças climáticas, a qualidade do ar, e plantas próximas. É por isso que cultivamos
plantas em estufas e fertilizamos a terra artificialmente. Nós tentamos criar o melhor ambiente para a planta crescer.
Em nossa sociedade humana, nós constantemente mudamos nosso ambiente: nós promovemos novos produtos, elegemos governos, vamos a cursos de todos os tipos, e
passamos o tempo com os amigos. Assim então, para controlarmos nosso crescimento, devemos aprender a verificar os tipos de pessoas com as quais passamos o tempo, mas o mais importante, são as pessoas que admiramos. Estas são as pessoas que nos influenciam mais.
Se nós desejamos nos tornar corrigidos – altruístas – precisamos saber quais mudanças sociais promoverão a correção, e então busca-las. Com este último fator – as mudanças no ambiente externo – nós moldamos nossa essência, mudamos os atributos de nossa base, e conseqüentemente determinamos nosso destino. É aí que temos liberdade de
escolha.

5-ESCOLHENDO O AMBIENTE APROPRIADO PARA A CORREÇÃO

Ainda que não possamos determinar os atributos de nossa base, podemos ainda afetar nossas vidas e nosso destino escolhendo nossos ambientes sociais. Em outras palavras, porque o ambiente afeta os atributos da base, podemos determinar nossos futuros desenvolvendo nossos ambientes de maneira que promovam os objetivos que queremos alcançar.
Assim que tiver escolhido minha direção e desenvolvido um ambiente para me guiar até lá, posso usar a sociedade como um impulsionador para acelerar meu progresso. Se, por
exemplo, eu quero dinheiro, eu posso cercar-me de pessoas que o querem, falam sobre ele, e trabalham para obtê-lo. Isto me inspirará a trabalhar duro por ele também, e transformará minha mente em uma fábrica de esquemas para ganhar dinheiro.
E eis aqui um outro exemplo. Se eu estou com sobrepeso e quero mudar isso, a maneira mais fácil de fazer isso é cercar-me de pessoas que pensam, falam, e encorajam uma a outra a perder peso. Na verdade, eu posso fazer mais do que me cercar com pessoas para criar um ambiente; eu posso reforçar a influência daquele ambiente com livros, filmes e artigos de revistas. Qualquer meio que aumenta e dá suporte ao meu desejo de perder peso será válido.
Está tudo no ambiente. Alcoólicos Anônimos, instituições de reabilitação de viciados em drogas, Vigilantes do Peso, todos esses usam o poder da sociedade para ajudarem as pessoas quando elas não podem ajudar a si próprias. Se usarmos nossos ambientes corretamente, podemos alcançar coisas que não nos atreveríamos a sonhar. E o melhor de tudo é que nós sequer sentiríamos que estamos fazendo todo tipo de esforço para
alcançá-las.
Pássaros em Bando No primeiro capítulo, falamos sobre o princípio da “equivalência de forma”. O mesmo princípio se aplica aqui também, mas no nível físico. Pessoas similares sentem-se confortáveis juntas porque elas têm os mesmos desejos e as mesmas idéias. Todos nós sabemos que pássaros de mesma plumagem voam no mesmo bando. Mas podemos reverter o processo. Ao escolhermos nosso bando, podemos determinar o tipo de pássaros em que finalmente nos transformaremos.
O desejo por espiritualidade não é exceção. Se eu quero a espiritualidade e quero aumentar meu desejo por ela, eu preciso apenas ter os amigos, livros, e filmes certos à minha volta. A natureza humana fará o resto. Se um grupo de pessoas decide se tornar como o Criador, nada pode ficar no caminho delas, nem mesmo o Próprio Criador. Os Cabalistas chamam isso de, “Meus filhos Me derrotaram.”
Então por que não estamos vendo nenhuma corrida pela espiritualidade? Bem, há um pequeno obstáculo: você não pode sentir a espiritualidade enquanto não a possui. O problema é que sem ver ou sentir o objetivo, é bastante difícil realmente querelo, e nós já vimos que é bastante difícil obter qualquer coisa sem um grande desejo por ela.
Pense nisso deste jeito: tudo que queremos em nosso mundo é resultado de alguma influência externa sobre nós. Se eu gosto de pizza, é porque os meus amigos, meus pais, a TV, algo ou alguém me contou sobre como ela é deliciosa. Se eu quero ser um advogado, é porque a sociedade deu-me a impressão de que ser um advogado de alguma maneira compensa.
Mas, onde em nossa sociedade posso eu encontrar algo ou alguém para me dizer que ser como Criador é excelente? Além disso, se um desejo assim não existe na sociedade, como ele pode aparecer subitamente em mim? Ele surge do nada?
Não, não surge do nada; ele surge dos Reshimot. Ele é uma lembrança do futuro. Deixe-me explicar. Recapitulando, no Capítulo Quatro, dissemos que os Reshimot são registros, memórias que foram gravadas dentro de nós quando estávamos no alto da escada espiritual. Estes Reshimot existem em nosso subconsciente e emergem um por um, cada um evocando desejos novos ou mais poderosos, de estados passados.
Além do mais, porque todos nós estávamos em um ponto mais alto da escada espiritual, todos nós sentiremos o despertar do desejo de retornar àqueles estados espirituais, quando for o nosso momento de experimenta-los – o nível espiritual dos desejos. É por isso que os Reshimot são memórias de nossos estados futuros.
Portanto, a pergunta não tem de ser, “Como eu posso ter um desejo por algo que meu ambiente não apresenta a mim?”
Ao invés disso, devemos perguntar, “Já que tenho este desejo, como posso aproveita-lo ao máximo?” E a resposta é simples: Trate-o assim como você trataria qualquer outra coisa que você quer alcançar – pense sobre ela, fale sobre ela, leia sobre ela, e cante sobre ela. Faça tudo que puder para faze-la importante, e seu progresso acelerará proporcionalmente.
No Livro do Zohar, há uma história inspiradora (e verdadeira) de um homem sábio que se chamava Rabi Yosi Bem Kisma, o maior Cabalista de sua época. Um dia, um mercador rico de outra cidade aproximou-se dele e ofereceu mudar o Rabi para a cidade do mercador rico com o objetivo de abrir um seminário para as pessoas sedentas por sabedoria da tal cidade.
O mercador explicou que não existiam sábios em sua cidade, e que a cidade necessitava de mestres espirituais. Obviamente, ele prometeu a Rabi Yosi que todas as suas necessidades pessoais e educacionais seriam generosamente supridas.
Causando grande surpresa ao mercador, Rabi Yosi declinou resolutamente, afirmando que sob nenhuma circunstância iria ele se mudar para um lugar onde não houvesse outros sábios. O mercador desanimado tentou convence-lo e insinuou que Rabi Yosi era o maior sábio da geração e que ele não precisava aprender de ninguém.
“Além do que”, disse o mercador, “ao mudar-se para nossa cidade e ao ensinar nosso povo, você estaria fazendo um grande serviço espiritual, pois aqui já há um grande número de sábios, e nossa cidade não tem nenhum. Esta seria uma grande contribuição para a espiritualidade de toda a geração. Irá o grande Rabi ao menos considerar minha oferta?”
A isto, Rabi Yosi resolutamente respondeu: “Mesmo o mais instruído dos sábios se torna insensato quando habita entre pessoas insensatas.” Não que Rabi Yosi não quisesse ajudar o mercador daquela cidade; ele simplesmente sabia que sem um ambiente incentivador, ele iria perder duas vezes – falhando em instruir seus estudantes, e perdendo seu próprio nível espiritual.

5.1-NÃO-ANARQUISTAS

A seção anterior pode leva-lo a pensar que os Cabalistas são anarquistas que pretendem obstruir a ordem social para promover a construção de sociedades orientadas à espiritualidade. Nada poderia ser tão distante da verdade. Yehuda Ashlag explica com bastante clareza, e qualquer sociólogo ou antropólogo confirmará, que os seres humanos
são criaturas sociais. Em outras palavras, não temos outra opção além da vida em sociedades, porque somos ramificações de uma alma universal. É portanto claro, que precisamos também nos conformar às regras da sociedade em que vivemos e nos importar com o seu bem-estar. E a única maneira de alcançarmos isso é se acatarmos as regras da sociedade em que vivemos.
Contudo, Ashlag também afirma que em qualquer situação não relacionada à sociedade, a sociedade não tem o direito ou a justificativa de limitar ou oprimir a liberdade do
indivíduo. Ashlag até chega a chamar aqueles que assim fazem de “criminosos”, declarando que no que se refere ao progresso espiritual de uma pessoa, a Natureza não obriga o indivíduo a obedecer à vontade da maioria. Ao contrário, o crescimento espiritual é de responsabilidade pessoal de cada um de nós. Ao fazermos assim, melhoramos não apenas nossas próprias vidas, mas as vidas do mundo inteiro.

É imperativo que entendamos a separação entre nossas obrigações para com a sociedade em que vivemos, e para com nosso crescimento espiritual. Saber onde traçarmos a linha e como contribuirmos para ambos nos livrará de muita confusão e de concepções errôneas sobre a espiritualidade. A ordem na vida precisa ser simples e sincera: Na vida cotidiana obedecemos ao controle da lei; na vida espiritual estamos livres para evoluir individualmente. Conclui-se que a liberdade individual pode apenas ser alcançada através de nossa escolha na evolução espiritual, onde os outros não devem interferir.

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