4-QUATRO FATORES
Mas se não somos nada além de produtos
de nosso ambiente, e se não existe real liberdade no que fazemos, no que
pensamos, no que queremos, podemos ser considerados responsáveis por nossas
ações? E se não somos responsáveis por elas, quem é?
Para respondermos estas perguntas
precisamos primeiro entender os quatro fatores que nos compõem, e como podemos trabalhar
com eles para adquirirmos a liberdade de escolha. De acordo com a Cabalá, somos
todos controlados por quatro fatores:
1. A “base”, também chamada de “matéria
primária”;
2. Atributos imutáveis da base;
3. Atributos que mudam através de forças
externas;
4. Mudanças no ambiente externo.
Vejamos o que eles significam para nós.
1. A Base, a Matéria Primária
Nossa essência imutável é chamada de “a
base.” Eu posso estar feliz ou triste, pensativo, nervoso, sozinho ou com os outros.
Com qualquer ânimo e em qualquer sociedade, o eu básico nunca muda.
Para entendermos o conceito de quatro
fases, pensemos no desenvolvimento e na morte das plantas. Considere um ramo de
trigo. Quando uma semente de trigo se decompõe, ela perde sua forma
completamente. Mas mesmo que ela tenha perdido sua forma completamente, apenas
um novo ramo de trigo irá emergir daquela semente, e nada mais. Isto é assim porque
a base não se alterou; a essência da semente permaneceu aquela do trigo.
2. Atributos Imutáveis da Base
Assim como a base é imutável e o trigo
sempre produz novo trigo, a maneira em que a semente de trigo se desenvolve é
também imutável. Um único caule pode produzir mais de um caule no novo ciclo de
vida, e a quantidade e a qualidade dos novos germes pode mudar, mas a própria
base, a essência da forma anterior do trigo, permanecerá inalterada. Resumindo,
nenhuma outra planta pode crescer de uma semente de trigo
além do trigo, e todas as plantas de
trigo sempre passarão pelo mesmo padrão de crescimento do momento em que germinarem
ao momento em que secarem.
Similarmente, todas as crianças humanas
amadurecem pela mesma seqüência de crescimento. É por isso que nós (mais ou
menos) sabemos quando uma criança deverá começar a desenvolver determinadas
habilidades, e quando ela poderá começar a comer determinados alimentos. Sem
este padrão fixo, nós não poderíamos traçar a curva de crescimento dos bebês
humanos, ou de nenhuma outra coisa, no que diz respeito ao assunto.
3. Atributos que Mudam através de Forças
Externas
Mesmo que a semente permaneça o mesmo
tipo de semente, sua aparência pode mudar como resultado das influências
ambientais tais como a luz do sol, o solo, os fertilizantes, a umidade, e a
chuva. Assim, enquanto o tipo de planta permanece sendo o trigo, sua
“embalagem”, os atributos da essência do trigo, podem ser modificados através
dos
elementos externos.
Similarmente, nossos ânimos mudam na
companhia de outras pessoas ou em diferentes situações mesmos que os nossos
egos (bases) permaneçam os mesm os. Algumas vezes,
quando a influência do ambiente é
prolongada, ela pode não apenas mudar nosso ânimo, mas até nosso caráter. Não é
o ambiente que cria novos traços em nós; apenas acontece que o estar no meio de
um determinado tipo de gente encoraja certos aspectos de nossa natureza a
tornarem-se mais ativos do que eram antes.
4. Mudanças no Ambiente Externo
O ambiente que afeta a semente é em si
afetado por outros fatores externos tais como as mudanças climáticas, a qualidade
do ar, e plantas próximas. É por isso que cultivamos
plantas em estufas e fertilizamos a
terra artificialmente. Nós tentamos criar o melhor ambiente para a planta
crescer.
Em nossa sociedade humana, nós
constantemente mudamos nosso ambiente: nós promovemos novos produtos, elegemos
governos, vamos a cursos de todos os tipos, e
passamos o tempo com os amigos. Assim
então, para controlarmos nosso crescimento, devemos aprender a verificar os
tipos de pessoas com as quais passamos o tempo, mas o mais importante, são as
pessoas que admiramos. Estas são as pessoas que nos influenciam mais.
Se nós desejamos nos tornar corrigidos –
altruístas – precisamos saber quais mudanças sociais promoverão a correção, e
então busca-las. Com este último fator – as mudanças no ambiente externo – nós
moldamos nossa essência, mudamos os atributos de nossa base, e conseqüentemente
determinamos nosso destino. É aí que temos liberdade de
escolha.
5-ESCOLHENDO O AMBIENTE APROPRIADO PARA
A CORREÇÃO
Ainda que não possamos determinar os
atributos de nossa base, podemos ainda afetar nossas vidas e nosso destino
escolhendo nossos ambientes sociais. Em outras palavras, porque o ambiente
afeta os atributos da base, podemos determinar nossos futuros desenvolvendo
nossos ambientes de maneira que promovam os objetivos que queremos alcançar.
Assim que tiver escolhido minha direção
e desenvolvido um ambiente para me guiar até lá, posso usar a sociedade como um
impulsionador para acelerar meu progresso. Se, por
exemplo, eu quero dinheiro, eu posso
cercar-me de pessoas que o querem, falam sobre ele, e trabalham para obtê-lo.
Isto me inspirará a trabalhar duro por ele também, e transformará minha mente
em uma fábrica de esquemas para ganhar dinheiro.
E eis aqui um outro exemplo. Se eu estou
com sobrepeso e quero mudar isso, a maneira mais fácil de fazer isso é
cercar-me de pessoas que pensam, falam, e encorajam uma a outra a perder peso.
Na verdade, eu posso fazer mais do que me cercar com pessoas para criar um
ambiente; eu posso reforçar a influência daquele ambiente com livros, filmes e
artigos de revistas. Qualquer meio que aumenta e dá suporte ao meu desejo de
perder peso será válido.
Está tudo no ambiente. Alcoólicos
Anônimos, instituições de reabilitação de viciados em drogas, Vigilantes do
Peso, todos esses usam o poder da sociedade para ajudarem as pessoas quando
elas não podem ajudar a si próprias. Se usarmos nossos ambientes corretamente,
podemos alcançar coisas que não nos atreveríamos a sonhar. E o melhor de tudo é
que nós sequer sentiríamos que estamos fazendo todo tipo de esforço para
alcançá-las.
Pássaros em Bando No primeiro capítulo,
falamos sobre o princípio da “equivalência de forma”. O mesmo princípio se aplica
aqui também, mas no nível físico. Pessoas similares sentem-se confortáveis
juntas porque elas têm os mesmos desejos e as mesmas idéias. Todos nós sabemos
que pássaros de mesma plumagem voam no mesmo bando. Mas podemos reverter o
processo. Ao escolhermos nosso bando, podemos determinar o tipo de pássaros em
que finalmente nos transformaremos.
O desejo por espiritualidade não é
exceção. Se eu quero a espiritualidade e quero aumentar meu desejo por ela, eu preciso
apenas ter os amigos, livros, e filmes certos à minha volta. A natureza humana
fará o resto. Se um grupo de pessoas decide se tornar como o Criador, nada pode
ficar no caminho delas, nem mesmo o Próprio Criador. Os Cabalistas chamam isso
de, “Meus filhos Me derrotaram.”
Então por que não estamos vendo nenhuma
corrida pela espiritualidade? Bem, há um pequeno obstáculo: você não pode sentir
a espiritualidade enquanto não a possui. O problema é que sem ver ou sentir o
objetivo, é bastante difícil realmente querelo, e nós já vimos que é bastante
difícil obter qualquer coisa sem um grande desejo por ela.
Pense nisso deste jeito: tudo que
queremos em nosso mundo é resultado de alguma influência externa sobre nós. Se eu
gosto de pizza, é porque os meus amigos, meus pais, a TV, algo ou alguém me
contou sobre como ela é deliciosa. Se eu quero ser um advogado, é porque a
sociedade deu-me a impressão de que ser um advogado de alguma maneira compensa.
Mas, onde em nossa sociedade posso eu
encontrar algo ou alguém para me dizer que ser como Criador é excelente? Além disso,
se um desejo assim não existe na sociedade, como ele pode aparecer subitamente
em mim? Ele surge do nada?
Não, não surge do nada; ele surge dos
Reshimot. Ele é uma lembrança do futuro. Deixe-me explicar. Recapitulando, no Capítulo
Quatro, dissemos que os Reshimot são registros, memórias que foram gravadas
dentro de nós quando estávamos no alto da escada espiritual. Estes Reshimot
existem em nosso subconsciente e emergem um por um, cada um evocando desejos
novos ou mais poderosos, de estados passados.
Além do mais, porque todos nós estávamos
em um ponto mais alto da escada espiritual, todos nós sentiremos o despertar do
desejo de retornar àqueles estados espirituais, quando for o nosso momento de
experimenta-los – o nível espiritual dos desejos. É por isso que os Reshimot
são memórias de nossos estados futuros.
Portanto, a pergunta não tem de ser,
“Como eu posso ter um desejo por algo que meu ambiente não apresenta a mim?”
Ao invés disso, devemos perguntar, “Já
que tenho este desejo, como posso aproveita-lo ao máximo?” E a resposta é
simples: Trate-o assim como você trataria qualquer outra coisa que você quer
alcançar – pense sobre ela, fale sobre ela, leia sobre ela, e cante sobre ela.
Faça tudo que puder para faze-la importante, e seu progresso acelerará
proporcionalmente.
No Livro do Zohar, há uma história
inspiradora (e verdadeira) de um homem sábio que se chamava Rabi Yosi Bem Kisma,
o maior Cabalista de sua época. Um dia, um mercador rico de outra cidade
aproximou-se dele e ofereceu mudar o Rabi para a cidade do mercador rico com o
objetivo de abrir um seminário para as pessoas sedentas por sabedoria da tal
cidade.
O mercador explicou que não existiam sábios
em sua cidade, e que a cidade necessitava de mestres espirituais. Obviamente, ele
prometeu a Rabi Yosi que todas as suas necessidades pessoais e educacionais
seriam generosamente supridas.
Causando grande surpresa ao mercador,
Rabi Yosi declinou resolutamente, afirmando que sob nenhuma circunstância iria
ele se mudar para um lugar onde não houvesse outros sábios. O mercador
desanimado tentou convence-lo e insinuou que Rabi Yosi era o maior sábio da geração
e que ele não precisava aprender de ninguém.
“Além do que”, disse o mercador, “ao
mudar-se para nossa cidade e ao ensinar nosso povo, você estaria fazendo um grande
serviço espiritual, pois aqui já há um grande número de sábios, e nossa cidade
não tem nenhum. Esta seria uma grande contribuição para a espiritualidade de
toda a geração. Irá o grande Rabi ao menos considerar minha oferta?”
A isto, Rabi Yosi resolutamente
respondeu: “Mesmo o mais instruído dos sábios se torna insensato quando habita entre
pessoas insensatas.” Não que Rabi Yosi não quisesse ajudar o mercador daquela
cidade; ele simplesmente sabia que sem um ambiente incentivador, ele iria
perder duas vezes – falhando em instruir seus estudantes, e perdendo seu
próprio nível espiritual.
5.1-NÃO-ANARQUISTAS
A seção anterior pode leva-lo a pensar
que os Cabalistas são anarquistas que pretendem obstruir a ordem social para promover
a construção de sociedades orientadas à espiritualidade. Nada poderia ser tão
distante da verdade. Yehuda Ashlag explica com bastante clareza, e qualquer sociólogo
ou antropólogo confirmará, que os seres humanos
são criaturas sociais. Em outras
palavras, não temos outra opção além da vida em sociedades, porque somos
ramificações de uma alma universal. É portanto claro, que precisamos também nos
conformar às regras da sociedade em que vivemos e nos importar com o seu
bem-estar. E a única maneira de alcançarmos isso é se acatarmos as regras da
sociedade em que vivemos.
Contudo, Ashlag também afirma que em
qualquer situação não relacionada à sociedade, a sociedade não tem o direito ou
a justificativa de limitar ou oprimir a liberdade do
indivíduo. Ashlag até chega a chamar
aqueles que assim fazem de “criminosos”, declarando que no que se refere ao
progresso espiritual de uma pessoa, a Natureza não obriga o indivíduo a obedecer
à vontade da maioria. Ao contrário, o crescimento espiritual é de
responsabilidade pessoal de cada um de nós. Ao fazermos assim, melhoramos não
apenas nossas próprias vidas, mas as vidas do mundo inteiro.
É imperativo que entendamos a separação
entre nossas obrigações para com a sociedade em que vivemos, e para com nosso
crescimento espiritual. Saber onde traçarmos a linha e como contribuirmos para
ambos nos livrará de muita confusão e de concepções errôneas sobre a
espiritualidade. A ordem na vida precisa ser simples e sincera: Na vida
cotidiana obedecemos ao controle da lei; na vida espiritual estamos livres para
evoluir individualmente. Conclui-se que a liberdade individual pode apenas ser
alcançada através de nossa escolha na evolução espiritual, onde os outros não
devem interferir.
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