quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

POR TRÁS DE PORTAS FECHADAS - A EVOLUÇÃO DOS DESEJOS

POR TRÁS DE PORTAS FECHADAS
O homem... se ele é educado insuficientemente ou de forma imprópria, ele é a mais selvagem das criaturas terrestres. (Platão, As Leis)

O conhecimento sempre foi considerado um bem. A espionagem não é uma invenção dos tempos modernos; ela existe desde a alvorada da história. Mas ela existiu porque o conhecimento sempre foi revelado na base do precisar saber, e a única disputa era sobre quem precisava saber.
No passado, os conhecedores eram chamados de “sábios,” e o conhecimento que eles possuíram era o dos segredos da Natureza. Os sábios esconderam seu conhecimento, temendo que ele pudesse cair nas mãos daqueles que eles consideravam indignos.
Mas como determinamos quem merece saber? O fato de eu ter algum pedaço de informação exclusivo me dá o direito de esconde-lo? Naturalmente, pessoa alguma iria concordar que ela não merece saber; assim nós tentamos “roubar” qualquer informação que queiramos, que não está acessível abertamente.
Mas este nem sempre foi o caso. Há muitos anos atrás, antes do egoísmo alcançar seu nível mais elevado, as pessoas consideravam o bem coletivo antes de considerar o seu próprio.
Elas sentiam-se conectadas a toda a Natureza e a toda a humanidade, e não a si próprias. Para elas, essa era a maneira natural de ser.
Mas atualmente, nossas considerações têm mudado drasticamente, e acreditamos que somos dignos de saber tudo e de fazer tudo. Isto é o que nosso nível de egoísmo dita automaticamente.
De fato, mesmo antes de a humanidade alcançar o quarto nível do desejo, eruditos começaram a vender sua sabedoria para obterem benefícios materiais como o dinheiro, a honra, e o poder. Conforme cresceram as tentações, as pessoas não mais puderam manter seu modo de vida modesto e dirigir seus esforços inteiramente à investigação da Natureza. Ao invés disso, estas pessoas sábias começaram a usar seu conhecimento para obterem prazeres materiais.
Hoje, com o progresso da tecnologia e com o maior ímpeto de nossos egos, o mau uso do conhecimento tornou-se a regra. Assim, quanto mais a tecnologia progride, mais perigoso estamos nos tornando para nós mesmos e para nosso ambiente.
Conforme nos tornamos mais poderosos, estamos mais tentados a usar nosso poder para obtermos o que queremos.
Como dissemos anteriormente, o desejo de receber consiste de quatro níveis de intensidade. Quanto mais poderoso se torna, maior o nosso declínio moral e social. Não é, então, de se surpreender que estejamos numa crise. É também bastante claro o porquê dos sábios terem escondido seu conhecimento, e o porquê do próprio egoísmo crescente deles compeli-los a
revela-lo.
Sem mudarmos a nós mesmos, conhecimento e progresso não irão nos ajudar. Eles apenas produzirão prejuízos maiores do que já temos. Portanto, seria totalmente ingênuo esperar que
o avanço científico mantenha sua promessa de uma boa vida.
Se queremos um futuro mais brilhante, precisamos apenas mudar a nós mesmos.

A EVOLUÇÃO DOS DESEJOS
A afirmação de que a natureza humana é egoísta é estranha para se fazer qualquer manchete. Mas porque somos naturalmente egoístas, somos todos, sem exceção, propensos a fazer um mau uso do que sabemos. Esta propensão não significa que usaremos nosso conhecimento para cometer um crime. Ela pode expressar-se em coisas bastante pequenas, aparentemente insignificantes, como conseguir ser promovido no trabalho enquanto não merecemos, ou afastar a pessoa amada de nosso melhor amigo para longe dele.
A verdadeira notícia sobre o egoísmo não é que a natureza humana é egoísta; é que eu sou um egoísta. A primeira vez que confrontamos nosso próprio egoísmo é uma experiência completamente esclarecedora. É como se tornar sóbrio, é uma grande dor de cabeça.
Há uma boa razão pela qual nosso desejo de receber constantemente se desenvolve, e nós iremos falar dela daqui a pouco. Mas por enquanto, vamos nos focar no papel desta evolução da maneira em que adquirimos conhecimento.
Quando um novo desejo surge, ele cria novas necessidades. E quando procuramos por maneiras de satisfazer estas necessidades, desenvolvemos e aperfeiçoamos nossas mentes. Em outras palavras, é a evolução do desejo de receber prazer que cria a evolução.
Uma olhada na história humana da perspectiva da evolução dos desejos mostra como estes crescentes desejos geraram cada conceito, descoberta, e invenção. Cada inovação, de fato, tem sido uma ferramenta que nos ajuda a satisfazer as necessidades e demandas crescentes que nossos desejos criam.

“O primeiro nível de desejo se refere a desejos físicos como o alimento, o sexo, a família, e o lar.
Estes são os desejos mais básicos, compartilhados por todas as criaturas vivas.
Diferentes do primeiro nível dos desejos, todos os outros níveis são unicamente humanos e provém de estarmos em uma sociedade humana. O segundo nível é o desejo por riquezas; o terceiro é o desejo por honra, fama e domínio, e o quarto nível é o desejo por conhecimento.”

A felicidade ou infelicidade, e o prazer ou o sofrimento dependem de como satisfazemos nossas necessidades. Mas a satisfação requer esforço. Na verdade, somos tão dirigidos pelo prazer que, de acordo com o Cabalista Yehuda Ashlag, “Uma pessoa não pode sequer fazer um movimento mínimo sem motivação... sem de alguma forma beneficiar a si próprio.”
Mais ainda, “Quando, por exemplo, alguém move sua mão da cadeira para a mesa é porque esta pessoa pensa que ao colocar a mão dela sobre a mesa ela irá receber um prazer maior. Se a pessoa não achasse isso, ela deixaria a mão dela sobre a cadeira para o resto de sua vida.”
No capítulo anterior, nós dissemos que o egoísmo é um beco sem saída. Em outras palavras, a intensidade do prazer depende da intensidade do desejo. Conforme a saciedade aumenta, o desejo proporcionalmente diminui. Assim, quando o desejo se vai, assim também se vai o prazer. O que acontece é que para gozarmos algo, nós precisamos não apenas deseja-lo, mas mantermo-nos desejando-o, ou o prazer desaparecerá.
Além do mais, o prazer não está no objeto desejado; está naquele que deseja o prazer. Por exemplo: Se eu estou louco por atum, isto não significa que o atum possui algum prazer dentro dele, mas que um prazer na “forma” de atum existe em mim.
Pergunte a qualquer atum se ele gosta da sua própria carne. Eu duvido que ele irá responder positivamente. Eu posso grosseiramente perguntar ao atum, “Mas por que você não gosta disso? Quando eu mordo um pedaço seu, ele tem um gosto tão bom... E você tem toneladas de atum! Se eu fosse você, estaria no Paraíso.”
É claro, que todos nós sabemos que este não é um diálogo realístico, e não apenas porque atuns não falam Português. Nós instintivamente percebemos que um atum não pode gostar de
sua própria carne, enquanto humanos podem gostar muito do sabor do atum.
Por que esta apreciação humana pelo sabor do atum? Porque nos temos um desejo por ele. A razão pela qual um atum não pode gostar de sua própria carne é porque ele não tem desejo por ela. Um desejo de receber específico por um objeto específico é chamado de Kli (vaso), e a recepção de prazer dentro do Kli é chamada de Ohr (Luz). O conceito de Kli e Ohr é inquestionavelmente o mais importante conceito na sabedoria da Cabalá. Quando você puder construir um Kli, um vaso para o Criador, você receberá Sua Luz.