sábado, 8 de outubro de 2016

DE QUEM A REALIDADE É A REALIDADE

CAPITULO V

1-DE QUEM A REALIDADE É A REALIDADE

“Todos os mundos, superiores e inferiores, estão dentro de nós”
Yehuda Ashlag

De todos os conceitos inesperados encontrados na Cabalá, nenhum é tão surpreendente, e tão irracional, mas mesmo assim, tão profundo e fascinante quanto o conceito de realidade. Se não fosse por Einstein e pela Física Quântica, que revolucionaram a maneira de pensar sobre a realidade, as ideias apresentadas aqui teriam sido anuladas e ridicularizadas.

No capítulo anterior, dissemos que a evolução ocorre porque nosso desejo de receber prazer progride do nível Raiz ao Quarto nível. Mas se nossos desejos propeliram a evolução de nosso mundo, então, existe o mundo verdadeiramente fora de nós? Poderia ser que o mundo à nossa volta seja na verdade apenas um conto no qual desejamos acreditar?

Nós dissemos que a Criação começou do Pensamento da Criação, que criou as Quatro Fases Básicas da Luz. Estas fases incluem dez Sefirot: Keter (fase zero), Hochma (fase um), Bina (fase dois), Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, e Yesod (todas quais compreendem a fase três – Zeir Anpin), e Malchut (fase quatro).

O Livro do Zohar, o livro que todo Cabalista estuda, diz que toda a realidade consiste apenas de dez Sefirot. Tudo é feito de estruturas destas dez Sefirot. A única diferença entre elas é quão profundamente elas estão imersas em nossa substância – o desejo de receber.

Para entender o que os Cabalistas querem expressar quando dizem que “elas estão imersas em nossa substância,” pense numa forma, digamos uma bola pressionada contra um pedaço de plasticina ou um outro tipo de massa de modelar. A forma representa um grupo de dez Sefirot, e a massa representa a nós, ou nossas almas. Agora, mesmo se você pressionar a bola profundamente contra a massa, a bola em si não mudará. Mas quanto mais fundo a bola é imersa na massa, mais a massa é mudada por ela.

Como isto é percebido quando os elementos são um grupo de dez Sefirot e uma alma? Você alguma vez subitamente notou alguma coisa que sempre esteve à sua volta, só que agora um certo aspecto dela roubou sua atenção? Isto é similar à sensação das dez Sefirot afundando apenas um pouco mais no desejo de receber. Em termos simples, quando subitamente percebemos alguma coisa que não tínhamos percebido antes, é porque as dez Sefirot foram um pouco mais fundo em nós.

Os Cabalistas têm um nome para o desejo de receber – Aviut. Aviut na realidade significa espessura, e não desejo. Mas eles usam este termo porque quanto maior o desejo de receber, mais camadas são adicionadas a ele.

Como dissemos, o desejo de receber, a Aviut, consiste de graus básicos – 0, 1, 2, 3, 4. Conforme as dez Sefirot imergem mais fundo nos níveis (camadas) de Aviut, elas formam uma variedade de combinações, ou misturas do desejo de receber com o desejo de doar. Estas combinações criam tudo que existe: os mundos espirituais, os mundos corpóreos, e tudo que existe dentro deles.

As variações em nossa substância (desejo de receber) criam nossas ferramentas de percepção, chamadas de Kelim (plural de Kli). Em outras palavras, toda forma, cor, cheiro, pensamento – tudo que existe – está lá porque dentro mim existe um Kli apropriado para percebe-lo.

Assim como nossos cérebros usam as letras do alfabeto para estudarem o que este mundo tem a oferecer, nossos Kelim usam as dez Sefirot para estudarem o que os mundos espirituais têm a oferecer. E assim como estudamos este mundo sob certas
leis e restrições, para estudarmos os mundos espirituais precisamos conhecer as leis que definem aqueles mundos.

Quando estudamos alguma coisa no mundo físico, precisamos seguir determinadas leis. Por exemplo, para alguma coisa ser considerada verdadeira, ela necessita ser testada
empiricamente. Se os testes mostrarem que ela funciona, ela é considerada correta, até que alguém mostre – em testes, não em palavras – que ela não funciona. Antes de alguma coisa ser testada, ela não passa de uma teoria.

Os mundos espirituais têm limites também – três limites, para ser exato. Se pretendemos alcançar o propósito da Criação e nos tornarmos como o Criador, precisamos nos ater a estes limites.


2-TRÊS LIMITES NA APRENDIZAGEM DA CABALÁ


2.1-PRIMEIRO LIMITE – O QUE PERCEBEMOS

Em seu Prefácio ao Livro do Zohar, o Cabalista Yehuda Ashlag escreve que existem “quatro categorias de percepção – a Matéria, a Forma na Matéria, a Forma Abstrata, e a Essência.” Quando examinamos a Natureza espiritual, é nossa tarefa decidir quais destas categorias nos provêem com informação sólida e confiável, e quais não.

O Zohar opta por explicar apenas as duas primeiras. Em outras palavras, cada palavra nele é escrita ou da perspectiva da Matéria ou da Forma na Matéria, e nele não há nenhuma palavra sequer da perspectiva da Forma Abstrata ou da Essência.


2.2-SEGUNDO LIMITE – ONDE PERCEBEMOS

Como dissemos antes, a substância dos mundos espirituais é chamada de “a alma de Adam ha Rishon.” É assim que os mundos espirituais foram criados. Contudo, nós já passamos pela criação destes mundos, e estamos no nosso caminho de subida aos níveis superiores, mesmo que nem sempre pareça que é assim.

Em nosso estado, a alma de Adão já se partiu em pedaços. O Zohar ensina que a vasta maioria dos pedaços, 99 por cento para ser exato, foi espalhada pelos mundos de Beria, Yetzira, e Assiya (BYA), e o um por cento restante subiu para Atzilut.
Pelo fato da alma de Adão formar o conteúdo dos mundos BYA e por ter sido espalhada por estes mundos, e por todos nós sermos partes daquela alma, claramente todas as
coisas que percebemos podem ser partes apenas destes mundos. Tudo o que percebemos vindo de mundos superiores a BYA, como Aztliut e Adam Kadmon, é impreciso por essa razão, quer pareça assim para nós, quer não. Tudo o que podemos perceber dos mundos de Atzilut e Adam Kadmon são seus reflexos, ao serem vistos através dos filtros dos mundos de BYA.

Nosso mundo está no degrau mais baixo dos mundos de BYA. De fato, este degrau é completamente oposto em natureza ao restante dos mundos espirituais, e é este o porquê de nós não os sentirmos. É como se duas pessoas estivessem de costas uma para a outra e caminhando para direções opostas. Quais as chances de alguma vez encontrarem uma a outra?

Mas quando corrigimos a nós mesmos, descobrimos que já estamos vivendo dentro dos mundos de BYA. No final, até mesmo, ascenderemos com eles para Atzilut e para Adam Kadmon.


2.3-O TERCEIRO LIMITE – QUEM PERCEBE

Mesmo O Zohar adentrando em grandes detalhes sobre o conteúdo de cada mundo e do que acontece lá, como se houvesse um local físico onde as coisas ocorrem, ele está na
verdade se referindo apenas às experiências das almas. Em outras palavras, ele se refere a como os Cabalistas percebem as coisas, e nos conta de tal forma, que nós também, possamos experimenta-las. Então, quando estamos lendo no Zohar sobre eventos nos mundos de BYA, nós estamos na verdade aprendendo sobre como Rabi Shimon Bar-Yochai (autor do Livro do Zohar) percebeu os estados espirituais, pela narrativa de seu filho, Rabi Abba.

Assim também, quando os Cabalistas escrevem sobre os mundos acima de BYA, eles não estão na verdade escrevendo sobre aqueles mundos especificamente, mas sobre como os escritores perceberam aqueles mundos enquanto estavam nos mundos de BYA. E porque os Cabalistas escrevem sobre suas experiências pessoais, existem similaridades e diferenças em escritos Cabalísticos. Parte do que eles escrevem se refere à estrutura geral dos mundos, como os nomes das Sefirot e dos mundos. Outras coisas se referem a experiências pessoais que eles tiveram nesses mundos.

Por exemplo, se conto a um amigo sobre minha viagem à Nova Iorque, eu posso falar sobre a Times Square ou sobre as grandes pontes que conectam Manhattan ao continente. Mas também posso falar sobre quão minúsculo me senti ao dirigir pela grandiosa Brooklyn Bridge, e como é ficar no meio da Times Square, engolido pelo deslumbrante show de luzes, cores, e sons, e pela sensação de total anonimato. A diferença entre os primeiros dois exemplos e os dois últimos é que na última dupla eu estou relatando minhas experiências pessoais, e nos dois primeiros exemplos, estou falando das impressões que cada pessoa experimentará quando for a Manhattan, embora cada uma as experimentará diferentemente.

Quando falamos sobre o Primeiro Limite, dissemos que O Zohar fala apenas das perspectivas da Matéria e da Forma na Matéria. Dissemos que a Matéria é o desejo de receber, e a Forma na Matéria é a intenção pela qual o desejo de receber de fato recebe – ou para mim ou para os outros. Em termos mais simples: Matéria – desejo de receber; Forma = intenção.

É imperativo lembrar que O Zohar não deve ser tratado como um relato de eventos místicos ou uma coleção de contos. O Zohar, como todos os outros livros de Cabalá, deve ser usado como uma ferramenta de aprendizado. Isto significa que o livro irá ajuda-lo apenas se você, também, quiser experimentar o que ele descreve. De outra forma, o livro será de pouca utilidade para você, e você não o entenderá.

Lembre-se disso: O entendimento correto da escrituras Cabalísticas depende da sua intenção enquanto as lê, da razão pela qual você as abriu, e não do poder de seu intelecto. Apenas se você quiser ser transformado nas qualidades altruístas que o texto descreve, o texto afetará você.

A Forma da doação por si própria, é chamada de “o mundo de Atzilut.” A doação em sua Forma Abstrata é o atributo do Criador; é totalmente desconexa das criaturas, que
são receptoras por sua natureza. Contudo, as criaturas (pessoas) podem envolver o desejo de receber delas com a Forma da doação, para que se assemelhe à doação. Em outras palavras, podemos receber, e ao fazermos assim realmente nos tornamos doadores.

Existem duas razões pelas quais não podemos apenas doar:
1. Para doar, é preciso existir alguém que queira receber. Contudo, além de nós (as almas), há apenas o Criador, que não tem necessidade de receber nada, pois Sua natureza é doar. Conseqüentemente, a doação não é uma opção viável para nós.
2. Não temos desejos por isso. Não podemos doar porque somos feitos de um desejo de receber; a recepção é a nossa substância, nossa Matéria.

Ora, esta última razão é mais complexa do que pode parecer a princípio. Quando os Cabalistas escrevem que tudo que queremos é receber, eles não querem dizer que tudo que fazemos é receber, mas que esta é a motivação essencial por trás de tudo que fazemos. Eles expressam isto de forma bastante clara: Se algo não nos dá prazer, nós não podemos faze-lo. Não significa que não queremos; nós literalmente não podemos. Isto é assim porque o Criador (a Natureza) nos criou apenas com um desejo de receber, porque tudo o que Ele quer é doar. Daí então, não precisamos mudar nossas ações, mas apenas a motivação essencial por trás delas.

http://projetoalquimia.wordpress.com/2012/03/13/kabalah/