7-FAZENDO UMA ESCOLHA LIVRE
O primeiro princípio do trabalho
espiritual é a “fé acima da razão.” Então, antes de falarmos sobre fazer uma
escolha livre, precisamos explicar os significados Cabalísticos da “fé” e da “razão”.
Em praticamente todas as religiões e
sistemas de credo sobre a Terra, a fé é usada como um meio de compensação por
aquilo que não vemos ou que não percebemos claramente. Em outras palavras, por
não podermos ver a Deus, temos de crer que Ele
existe. Neste caso, usamos a fé para
compensar nossa inabilidade de ver a Deus. Isto é chamado de “fé cega.”
Mas a fé é usada como compensação não
apenas na religião, mas em praticamente tudo que fazemos. Como sabemos, por
exemplo, que a Terra é redonda? Voamos alguma
vez para o espaço cósmico para checarmos
isso por nós mesmos? Nós cremos nos cientistas que nos contam que ela é redonda
porque consideramos os cientistas pessoas confiáveis, em quem podemos confiar
quando eles dizem que eles verificaram. Nós cremos neles; isto é fé. Fé cega.
Assim, onde quer que estejamos e não
importando quando, se não podemos ver por nós mesmos usamos a fé para completar
as peças que faltam no quebra-cabeça. Mas isto não é informação sólida - isto é
apenas fé cega.
Na Cabalá, a fé significa exatamente o
oposto do que acabamos de descrever. A fé, na Cabalá, é uma percepção tangível,
vívida, completa, indestrutível, e irrefutável do Criador – da lei que governa
a vida. Assim então, a única maneira de adquirirmos a fé no Criador é nos
tornando exatamente como Ele. Caso contrário, como poderíamos saber sem sombra
de dúvida quem Ele é, ou até mesmo se Ele existe?
7.2-RAZÃO
O Dicionário Webster oferece duas
definições para o termo, “razão.” A primeira definição é “causa,” mas é a
segunda definição que nos interessa. A razão, de acordo com o Webster, possui
três significados:
1. A capacidade de compreender, deduzir
ou pensar, especialmente de maneira racional metódica.
2. Ação peculiar da mente.
3. A soma das capacidades intelectuais. Como
sinônimos, o Webster oferece estas opções (entre outras): inteligência, mente,
e lógica.
Agora, leiamos algumas das palavras
esclarecedoras que o Cabalista Baruch Ashlag escreveu em uma carta a um estudante,
explicando “a hierarquia administrativa” da Criação.
Isto esclarecerá o porquê de termos de
estar acima da razão. “O desejo de receber foi criado porque o propósito da Criação
era beneficiar às Suas criaturas, e para este propósito é necessário existir um
vaso para receber o prazer. Além do mais, é impossível sentir prazer se não
existir uma necessidade pelo prazer, porque sem a necessidade, nenhum prazer é
sentido.”
“Este desejo de receber é o homem
inteiro (Adão) que o Criador criou. Quando dizemos que ao homem será concedido o
prazer eterno, nos referimos ao desejo de receber, que
receberá todo o prazer que o Criador
planejou doar a ele.”
“Ao desejo de receber foram dados servos
para servi-lo. Através deles, receberemos prazer. Estes servos são as mãos, as pernas,
a visão, a audição, etc. Todos eles são considerados nossos servos. Em outras
palavras, o desejo de receber é o mestre e os órgãos são seus servos.”
“E assim como acontece normalmente,
entre os servos há um mordomo que supervisiona os servos do mestre, assegurando
que eles trabalhem para o propósito desejado de obter prazer, pois é isto que o
mestre – o desejo de receber – deseja.”
“E se um dos servos estiver ausente, o
prazer relacionado àquele servo estará ausente, também. Por exemplo, se uma pessoa
for surda, ele ou ela não poderá apreciar a música. E se uma pessoa não puder
cheirar, ela não poderá apreciar a fragrância dos perfumes.”
“Mas se o cérebro de alguém estiver
ausente (o supervisor dos servos), o qual é como um feitor que supervisiona os trabalhadores,
o negócio todo entrará em colapso e o proprietário terá prejuízos. Se uma
pessoa tiver um negócio com vários empregados mas não tiver um bom gerente,
esta pessoa terá prejuízos em vez de lucros.”
“No entanto, mesmo sem o gerente (a
razão), o chefe (o desejo de receber) permanece presente. E mesmo se o gerente morrer,
o chefe permanecerá vivo. Os dois são independentes.”
Conclui-se que se quisermos derrotar o
desejo de receber e nos tornar altruístas, precisamos primeiro dominar seu “general”
– nossa própria razão. Assim então, a “fé sobre a razão” significa que a fé –
se tornar exatamente como o Criador – deve estar acima da (ser mais importante
que a) razão – nosso egoísmo.
E o caminho para chegarmos a isso possui
duas partes: No nível pessoal, é um grupo de estudos e um círculo de amigos que
nos ajudará a criar um ambiente social que promove valores espirituais. E no
nível coletivo, é exigido que toda a sociedade aprenda a apreciar os valores
altruístas.
8-RESUMINDO
Tudo que fazemos na vida é determina do
pelo princípio do prazer e da dor: nós fugimos da dor e perseguimos o prazer. E
quanto menos tivermos de trabalhar pelo prazer, melhor.
O princípio do prazer e da dor é ditado
pelo desejo de receber, e o desejo de receber controla tudo que fazemos, porque
esta é nossa essência. Assim então, enquanto pensamos que somos seres livres,
estamos na verdade presos pelas duas rédeas da vida, o prazer e a dor, presos
às mãos de nosso egoísmo.
Quatro fatores determinam quem somos: 1)
a Base, 2) os atributos imutáveis da Base, 3) os atributos que mudam através de
forças externas, e 4) as mudanças no ambiente externo. Nós podemos influenciar
apenas o último fator, mas este fator influência todos os outros fatores.
Assim então, o único jeito de
escolhermos quem somos é escolhendo o último fator, monitorando e mudando,
dessa maneira, nosso ambiente social. Pelo fato das mudanças no último fator
afetarem todos os outros fatores, ao muda-lo mudaremos a nós mesmos. Se nós
queremos nos libertar do egoísmo, precisamos mudar o ambiente externo para um
que dê suporte ao altruísmo, não ao egoísmo.
E logo que tivermos sido liberados do
desejo de receber, das algemas do egoísmo, poderemos avançar na espiritualidade.
Para fazermos isso, seguimos o princípio da “fé
acima da razão.”
“Fé,” na Cabalá, significa percepção
completa do Criador. Nós podemos obter a fé nos tornando iguais a Ele em nossos
atributos, em nossos desejos, intenções, e pensamentos. O termo “razão” se
refere à nossa mente, o “feitor” do nosso egoísmo. Para irmos acima dela,
precisamos fazer com que o valor da equivalência com o Criador seja mais
importante, mais precioso para nós que qualquer prazer egoísta que possamos imaginar.
No nível pessoal, nós aumentamos a
importância do Criador (altruísmo) ao usarmos livros (ou outras formas de mídia),
amigos, e um professor para nos mostrar como é
importante ser altruísta. No nível
social, tentamos incluir valores mais altruístas na sociedade.
No entanto, e isto é obrigatório para se
obter sucesso na mudança, a busca por valores altruístas não deve ser feita meramente
para fazer que nossas vidas sejam mais prazerosas neste mundo. Deve ser feita
para igualar nosso “eu” e nossa sociedade à Natureza, ou seja, à única lei da
realidade – a lei do altruísmo – o Criador.
Quando circundarmos a nós mesmos com
estes ambientes, como indivíduos e como sociedade, nossos valores gradualmente
mudarão para os valores de nosso ambiente,
transformando, assim, nosso egoísmo em
altruísmo naturalmente, facilmente, e prazerosamente.