domingo, 28 de dezembro de 2014

A BUSCA PELO PENSAMENTO DA CRIAÇÃO

CAPITULO III

1.2 - A BUSCA PELO PENSAMENTO DA CRIAÇÃO

Mesmo que o Criador queira que nós recebamos o prazer de nos tornarmos idênticos a Ele, Ele não nos deu esse desejo de princípio. Tudo o que Ele deu para nós - a criatura, a alma unida de Adam ha Rishon - foi um anseio pelo prazer máximo.
Contudo, como podemos ver na seqüência de fases, o Criador não infundiu a criatura com um desejo de ser como Ele; isto foi algo que se desenvolveu dentro dela através das fases.
Na Fase Três, a criatura tinha já recebido tudo e intentado devolver ao Criador. A seqüência poderia ter acabado bem aqui, pois a criatura já estava fazendo exatamente o que o Criador fazia – doando. Neste aspecto, eles eram agora idênticos.
Mas a criatura não se conformou em doar. Ela quis entender o que faz a doação aprazível, por que uma força doadora é necessária para criar a realidade, e que sabedoria o doador obtém doando. Em suma, a criatura quis entender o Pensamento da Criação. Este era um novo desejo, um que o Criador não tinha “plantado” na criatura.
Neste ponto em sua busca pelo Pensamento da Criação, a criatura tornou-se um ser distinto, separado do Criador. Podemos ver isto desse jeito: Se eu quero ser como alguém, isto necessariamente significa que estou ciente de que alguém além de mim existe, de que este alguém tem algo que eu quero, ou é algo que eu quero ser.
Em outras palavras, eu não apenas compreendo que existe alguém além de mim, mas entendo que alguém é diferente de mim. E não apenas diferente, mas melhor. Caso contrário, por que iria eu querer ser como Ele?
Assim então, Malchut, a Fase Quatro, é bastante diferente das três primeiras fases porque ela quer receber um tipo de prazer bastante específico (por isso na figura há uma seta mais larga) – aquele de ser idêntico ao Criador.
Da perspectiva do Criador, o desejo de Malchut completa o Pensamento da Criação, o ciclo que Ele originalmente teve em mente (Figura 2).


Infelizmente, não estamos olhando para as coisas da perspectiva do Criador. Olhando daqui de baixo, com nossas lentes espirituais quebradas, a imagem é menos que ideal. Para o Kli (uma
pessoa), completamente oposto à Luz, se tornar como a Luz, ele precisa usar seu desejo de receber com a intenção de doar. Ao fazer isto, ele muda seu foco do seu próprio prazer para o deleite que o Criador recebe ao doar. E ao fazer assim, o Kli, também, torna-se um doador.
Na verdade, o receber com o objetivo de doar ao Criador já ocorreu na Fase Três. Com relação
às ações do Criador, a Fase Três já tinha completado a tarefa de se tornar idêntica ao Criador. O Criador doa com o objetivo de doar e a Fase Três recebe com o objetivo de doar, assim, nisto eles são iguais. Mas o máximo prazer não está em saber o que o Criador faz e em replicar Suas ações. O máximo prazer está em saber porque Ele faz o que faz, e em adquirir os mesmos pensamentos que os Dele. E esta, a mais elevada parte da Criação – o pensamento do Criador – não foi dada à criatura; ela é o que a criatura (Fase Quatro) precisa conquistar. Há uma bela conexão aqui. Por um lado, parece que nós e o Criador estamos em lados opostos da corte, porque Ele doa e nós recebemos. Mas de fato, Seu maior prazer é que nós sejamos como Ele, e nosso maior prazer será nos tornarmos como Ele. Similarmente, todo filho quer ser como seus pais, e todo pai naturalmente quer que seus filhos conquistem até mesmo aquelas coisas que o pai não alcançou.
Podemos concluir que nós e o Criador estamos na verdade perseguindo o mesmo objetivo. Se pudéssemos compreender este conceito, nossas vidas seriam muito, muito diferentes. Ao invés da confusão e desorientação que muitos de nós experimentamos atualmente, tanto nós como o Criador seríamos capazes de marchar juntos para o nosso objetivo designado desde a alvorada da Criação.
Os Cabalistas usam vários termos para descreverem o desejo de doar: Criador, Luz, Doador, Pensamento da Criação, Fase Zero, Raiz, Fase Raiz, Keter, Bina, e muitos outros. Similarmente, eles usam vários termos para descrever o desejo de receber: criatura, Kli, receptores, Fase Um, Hochma, e Malchut são apenas alguns. Esses termos referem-se a sutilezas nas duas características – doação e recepção. Se lembrarmos disso, não ficaremos confusos com todos esses nomes.
Para se tornar como o Criador, um doador, o Kli faz duas coisas. Primeiro, ele pára de receber, um ato chamado Tzimtzum (restrição). Ele bloqueia a Luz por completo e não permite nenhum pouco dela dentro do Kli. Similarmente, é mais fácil evitar comer alguma coisa saborosa, que não é saudável, do que comer apenas um pouco e deixar o resto no prato. Portanto, fazer o Tzimtzum é o primeiro e mais fácil passo para se tornar como o Criador.
A próxima coisa que Malchut faz é instalar um mecanismo que examina a Luz (prazer) e decide se ela irá recebê-lo, e se for, quanto. Este mecanismo é chamado Masach (tela). A condição pela qual o Masach determina quanto receber é chamada de “intenção de doar” (Figura 3). Em termos simples, o Kli apenas deixa entrar o que ele pode receber com a intenção de agradar ao

Criador. A Luz recebida dentro do Kli é chamada de “Luz Interna,” e a Luz que permanece do lado de fora é chamada de “Luz Circundante.”

Ao fim do processo de correção, o Kli receberá toda a Luz do Criador e se unirá com Ele. Este é o propósito da Criação. Quando alcançarmos esse estado, nós o sentiremos tanto como indivíduos quanto como uma única sociedade unida, porque na verdade, o Kli completo não é feito dos desejos de uma pessoa, mas dos desejos de toda a humanidade. E quando completarmos essa última correção, nos tornaremos idênticos ao Criador, a Fase Quatro será preenchida, e a Criação será completa de nossa perspectiva, assim como é completa da perspectiva Dele.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

QUATRO FASES BÁSICAS

CAPITULO III


QUATRO FASES BÁSICAS
Voltemos à nossa história. Para pôr o pensamento de doar prazer em prática, o Criador projetou uma Criação que especificamente quisesse receber o prazer de ser idêntica ao Criador. Se você é pai, você sabe como isso é. Que palavras mais ternas podemos dizer a um pai orgulhoso além de, “Seu filho é igualzinho a você!”?
Como acabamos de dizer, o Pensamento da Criação – de doar prazer à criatura – é a raiz da Criação. Por esta razão, o Pensamento da Criação é chamado de “Fase Raiz” ou “Fase Zero,” e o desejo de receber prazer é chamado de “Fase Um.”

                Note que a Fase Zero é mostrada como uma seta para baixo. Onde quer que haja uma seta apontando para baixo, o significado é que a Luz vem do Criador à criatura. Mas o contrário não é verdadeiro: onde quer que haja uma seta para cima, não significa que a criatura doa Luz ao Criador, mas que ela quer devolve-la a Ele. E o que acontece quando existem duas setas apontando para direções opostas? Continue lendo: logo você descobrirá o que isto significa.

Os Cabalistas também se referem ao Criador como “o Desejo de Doar,” e à criatura como “o desejo de receber deleite e prazer” ou simplesmente “o desejo de receber.” Nós falaremos sobre nossa percepção do Criador mais à frente, mas o que é importante neste ponto é que os Cabalistas sempre nos dizem o que eles percebem. Eles não nos dizem que o Criador tem um desejo de doar; eles nos dizem que o que eles vêem do Criador é que Ele tem um desejo de doar, e é por isso que eles O chamaram de “o Desejo de Doar.” Por terem eles descoberto neles mesmos um desejo de receber o prazer que Ele quer doar, eles chamaram a si próprios de, “o desejo de receber.”
Assim o desejo de receber é a primeira Criação, a raiz de cada criatura. Quando a Criação, o desejo de receber, sente que o prazer vem de um doador, ela percebe que o verdadeiro prazer está no doar, e não no receber. Como resultado, o desejo de receber começa a querer doar (note a seta para cima se estendendo do segundo Kli – o vaso na figura). Esta é uma fase completamente nova – Fase Dois.
Vamos examinar o que faz desta uma nova fase. Se olharmos para o Kli em si, nós vemos que ele não muda através das fases. Isto significa que o desejo de receber está tão ativo quanto estava antes. Por ter sido o desejo de receber projetado no Pensamento da Criação, ele é eterno e nunca pode ser mudado.
Contudo, na Fase Dois o desejo de receber quer receber prazer de doar, não de receber, e esta é uma mudança fundamental. A grande diferença é que a Fase Dois precisa de um outro para quem possa doar. Em outras palavras, a Fase Dois tem de se relacionar positivamente a alguém ou a algo mais além de si própria.
A Fase Dois, que nos obriga a doar a despeito de nosso desejo de receber essencial, é que faz a vida possível. Sem ela, os pais não se importariam com seus filhos e a vida social seria impossível. Por exemplo, se eu sou dono de um restaurante, meu desejo é ganhar dinheiro, mas o inevitável é que estou alimentando estranhos pelos quais eu não tenho interesses de longo prazo. O mesmo é verdadeiro para banqueiros, motoristas de táxi (mesmo em Nova Iorque), e muitos outros.
Agora podemos ver porque a lei da Natureza é o altruísmo e a doação, e não a lei do receber, mesmo que o desejo de receber esteja na base da motivação de cada criatura, assim como na Fase Um. A partir do momento em que a Criação obteve tanto um desejo de receber como um desejo de doar, tudo o que acontecerá a ela virá do “relacionamento” entre essas duas fases.
Como acabamos de mostrar, o desejo de doar na Fase Dois a obriga a se comunicar, a buscar alguém que precise receber. Assim, a Fase Dois agora começa a examinar o que ela pode doar ao Criador. Afinal, para quem mais ela poderia doar?
Mas quando a Fase Dois de fato tenta doar, ela descobre que tudo o que o Criador quer é doar. Ele absolutamente não tem desejo de receber. Além do mais, o que a criatura pode doar ao Criador?
Além disso, a Fase Dois descobre que em sua essência, na Fase Um, seu verdadeiro desejo é receber. Ela descobre que sua raiz é essencialmente um desejo de receber deleite e prazer, e não há sequer um grama de desejo de doar genuíno dentro dela. Mas, e aqui está o xis da questão, porque o Criador quer apenas doar, o desejo de receber da criatura é precisamente o
que ela pode doar ao Criador.
Isto pode parecer confuso, mas se você pensar no prazer que uma mãe obtém ao alimentar seu bebê, você compreenderá que o bebê está na verdade doando prazer à sua mãe simplesmente por querer comer.
Portanto, na Fase Três, o desejo de receber escolhe receber, e assim fazendo devolve à Fase Raiz, ao Criador. Agora temos um círculo completo onde ambos os participantes são doadores: a Fase Zero, o Criador, doa à criatura, que é a Fase Um, e a criatura, tendo passado pelas Fases Um, Dois, e Três, devolve ao Criador ao receber Dele.
Na Figura 1, a seta para baixo na Fase Três indica que sua ação é a recepção, como na Fase Um, mas a seta para cima indica que sua intenção é doar, como na Fase Dois. E novamente, ambas ações usam o mesmo desejo de receber como nas Fases Um e Dois; isto não muda de jeito nenhum.
Como vimos anteriormente, nossas intenções egoístas são os motivos de todos os problemas que estamos vendo nesse mundo. Aqui, também, na raiz da Criação, a intenção é muito mais importante que a ação em si. De fato, Yehuda Ashlag metaforicamente disse que a Fase Três é dez por cento receptora, e noventa por cento doadora.
Agora parece que temos um ciclo perfeito onde o Criador conseguiu fazer a criatura idêntica a Si Próprio – um doador.
Além disso, a criatura se delicia em doar, assim retornando o prazer ao Criador. Mas isto completa o Pensamento da Criação?
Não exatamente. O ato de recepção (na Fase Um) e o entendimento que o único desejo do Criador é doar (na Fase Dois) faz que a criatura queira estar na mesma situação, que é a Fase Três. Mas tornar-se um doador não significa que a criatura estará na mesma situação, assim completando o Pensamento da Criação.
Estar na situação do Criador significa que a criatura não apenas se tornará um doador, mas terá o mesmo pensamento que o Doador – o Pensamento da Criação. Em tal situação, a criatura iria entender porque o ciclo Criador criatura foi iniciado, como também porque o Criador formou a Criação.
Claramente, o desejo de entender o Pensamento da Criação é uma fase completamente nova. A única coisa à qual podemos comparar é a um filho que quer ser tão forte e sábio como seus pais. Nós instintivamente sabemos que isto é possível apenas quando o filho realmente calça os calçados de seu pai ou de sua mãe. É por isso que os pais quase sempre dizem a seus filhos, “Espere até você ter seus próprios filhos; daí você vai entender.”

                Um dos termos mais comuns na Cabalá é o termo Sefirot. A palavra vem da palavra Hebraica, Sapir (safira) e cada Sefira (singular de Sefirot) tem sua própria Luz. Também, cada uma das quatro fases é chamada pelo nome de uma ou mais Sefira. A Fase Zero é chamada Keter, a Fase Um, Hochma, a Fase Dois, Bina, a Fase Três, Zeir Anpin, e a Fase Quatro, Malchut.
Na verdade, existem dez Sefirot porque Zeir Anpin é composto de seis Sefirot: Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, e Yesod. Portanto, o conjunto completo de Sefirot é Keter, Hochma, Bina, Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, Yesod, e Malchut.



Na Cabalá, o entendimento do Pensamento da Criação – o mais profundo nível de entendimento – é chamado de “compreensão” (Nota do Tradutor: da palavra inglesa attainment que pode significar apreensão, obtenção, atingir, captar, absorver algo). É isso que o desejo de receber anseia na última fase – Fase Quatro. O desejo de adquirir o Pensamento da Criação é a força mais poderosa na Criação. Ele está por trás de todo o processo de evolução. Estejamos nós cônscios disto ou não, o conhecimento máximo que buscamos é o entendimento do porquê o Criador faz o que faz. É o mesmo impulso que pressionou os Cabalistas a descobrirem os segredos da Criação a milhares de anos atrás. Até entendermos isso, não teremos paz em nossas mentes.

domingo, 27 de julho de 2014

A ORIGEM DA CRIAÇÃO - OS MUNDOS ESPIRITUAIS

CAPITULO III

A ORIGEM DA CRIAÇÃO
Agora que constatamos que hoje existe uma real necessidade de se estudar Cabalá, é hora de aprender algo básico desta sabedoria. Ainda que o escopo deste livro não permita um estudo minucioso dos Mundos Superiores, ao final deste capítulo você terá uma suficiente base sólida para continuar, se desejar estudar a Cabalá a fundo.
Uma palavrinha sobre as figuras: os livros de Cabalá são, e sempre foram, cheios de figuras. As figuras ajudam a descrever os estados ou estruturas espirituais. Desde o princípio, os Cabalistas têm usado figuras como ferramentas para explicar o que eles experimentam no decorrer de seu caminho espiritual. Contudo, é bastante importante lembrar que as figuras não representam objetos tangíveis. Elas são apenas imagens usadas para explicar os estados espirituais, que têm a ver com o mais íntimo relacionamento de alguém com o Criador, com a Natureza.

OS MUNDOS ESPIRITUAIS
A Criação é feita inteiramente de um desejo de receber prazer.
Este desejo se desenvolveu em quatro fases, das quais a última é chamada de “criatura”. Essa estrutura padrão da evolução dos desejos é a base para tudo o que existe.
A Figura 1 descreve a criação da criatura. Se tratarmos a criação como uma história, ela nos ajudará a lembrar que as figuras descrevem estados emocionais, espirituais, e não lugares ou objetos.
Antes de qualquer coisa ser criada, ela tem de ser pensada, planejada. Neste caso, estamos falando sobre a Criação e o pensamento que fez a Criação acontecer. Nós o chamamos de “o Pensamento da Criação.”
No primeiro capítulo, nós dissemos que no passado, o temor que as pessoas tinham pela Natureza as impulsionou a procurar pelo plano dela para elas e para todos nós. Em suas observações, elas descobriram que o plano da Natureza é que nós recebamos prazer. E não apenas qualquer prazer, como aqueles que podemos sentir neste mundo. A Natureza (sobre a qual dissemos que podemos trocar pelo termo, “Criador”) quer que nós recebamos um tipo de prazer muito especial – o prazer de nos tornarmos idênticos a Ela Própria, ao Criador.
Então se você observar a Figura 1, você verá que o Pensamento da Criação é na realidade um desejo de doar prazer (chamado “Luz”) às criaturas. Isto é também a raiz da Criação, onde todos nós começamos.
Os Cabalistas usam o termo Kli (vaso, receptáculo) para descrever o desejo de receber prazer, de receber a Luz. Agora podemos ver porque eles chamaram sua sabedoria de “a sabedoria da Cabalá” (a sabedoria da recepção).
Existe também uma boa razão pela qual eles chamaram o prazer de “Luz.” Quando o Kli – uma criatura, uma pessoa – sente o Criador, esta é uma experiência de grande sabedoria que começa a se manifestar em uma pessoa, como se algo clareasse em mim, e agora eu vejo a Luz. Quando isto acontece conosco, compreendemos que não importa qual sabedoria tenha se manifestado, ela sempre esteve lá, mesmo oculta aos nossos olhos. É como se a escuridão da noite tivesse se transformado em luz do dia e o invisível feito visível. E porque esta Luz traz conhecimento com ela, os Cabalistas a chamam de “Luz da Sabedoria,” e o método para recebela é “a sabedoria da Cabalá.”

OBS.: Imagem obtida do livro "A Cabala Revelada" posteriormente
disponibilizaremos uma melhor imagem de ilustração

domingo, 8 de junho de 2014

UM NOVO MÉTODO PARA UM NOVO DESEJO - TIKKUN – A CORREÇÃO DO DESEJO DE RECEBER

CAPITULO II

UM NOVO MÉTODO PARA UM NOVO DESEJO
Quando o “ponto no coração” aparece, a pessoa começa afastar-se de querer prazeres mundanos – sexo, dinheiro, poder, e conhecimento – para querer prazeres espirituais. Por este ser um novo tipo de prazer que estamos buscando, nós também precisamos de um novo método para satisfaze-lo. O método para satisfazer o novo desejo é chamado de “a sabedoria da Cabalá” (a sabedoria de como receber).
Para entendermos este novo método, vejamos a diferença entre a sabedoria da Cabalá, da qual o objetivo é preencher o desejo por espiritualidade, e os métodos usados para preencher
outros desejos. Com nossos desejos “comuns”, podemos habitualmente definir o que queremos com bastante facilidade.
Se eu quero comer, eu procuro por comida; se eu quero respeito, eu ajo de uma maneira que acredito que irá fazer as pessoas me respeitarem.
Mas por eu não exatamente saber o que a espiritualidade é, como posso eu saber o que fazer para obtê-la? Porque no começo, nós não compreendemos que o que realmente queremos é descobrir o Criador, nós também não compreendemos que precisaremos de um novo método para procurar por Ele. Este desejo é tão terminantemente diferente de qualquer coisa que já tenhamos sentido antes, é obscuro até mesmo para nós. É por isso que o método para descobrir e satisfazer este desejo é designado “A Sabedoria Oculta.”
Enquanto tudo o que queríamos era comida, status social, e – quando muito, conhecimento – nós não precisávamos da Sabedoria Oculta. Nós não tínhamos nenhum uso para ela, então ela permaneceu oculta. Mas seu ocultamento não significa que ela estava abandonada. Pelo contrário, por cinco mil anos os Cabalistas vêm polindo e refinando-a para a época na qual as pessoas iriam precisar dela. Eles vêm escrevendo livros cada vez mais simples para fazer a Cabalá compreensível e mais acessível.
Eles sabiam que no futuro o mundo inteiro iria precisar dela, e escreveram que isto aconteceria quando o quinto nível de desejo aparecesse. Agora este nível apareceu, e aqueles que o reconhecem sentem a necessidade pela sabedoria da Cabalá.
Em termos Cabalísticos: Para receber prazer, você precisa ter um Kli para isto, um desejo bem definido por um prazer bastante específico. O surgimento de um Kli força nossos cérebros a procurarem um jeito de preenche-lo com a Ohr (Luz). Agora que muitos de nós temos “pontos em nossos corações,” a sabedoria da Cabalá apresenta a si própria como um meio de satisfazer nosso desejo por espiritualidade.

TIKKUN – A CORREÇÃO DO DESEJO DE RECEBER
Nós já dissemos que o desejo de receber é um beco sem saída: quando eu finalmente recebo o que eu estava procurando, eu quase imediatamente paro de quere-lo. E é claro, sem quere-lo,
eu não posso goza-lo.
O desejo pela espiritualidade vem com um mecanismo exclusivo pré-instalado para evitar esse impasse. Este mecanismo é chamado Tikkun (correção). Um desejo do quinto nível precisa primeiramente ser “vestido” com este Tikkun antes de poder ser utilizado eficientemente e prazerosamente.
Entendendo o Tikkun resolveremos muitos malentendidos típicos sobre a Cabalá. O desejo de receber tem sido a força motriz por trás de todo progresso e mudança na história da humanidade. Mas o desejo de receber tem sempre sido um de receber prazer para gratificação própria. Enquanto não há nada de errado em querer receber prazer, a intenção de deleitar-se para gratificação própria nos coloca em oposição à Natureza, ao Criador. Portanto, ao querermos receber para nós mesmos estamos nos separando do Criador. Esta é nossa corrupção, a razão para todo o infortúnio e descontentamento.
Um Tikkun ocorre não quando paramos de receber, mas quando mudamos a razão pela qual estamos recebendo, nossa intenção. Quando recebemos para nós mesmos, isto é chamado “egoísmo”. Quando recebemos com o objetivo de nos unirmos com o Criador , isto é chamado “altruísmo,” ou seja, unidade com a Natureza.
Por exemplo, você teria prazer em comer a mesma comida, meses a fio? Provavelmente não. Mas é exatamente isto que é exigido que os bebês façam. Eles não têm escolha nesta questão. De fato, a única razão pela qual eles concordam com isso é porque eles não conhecem mais nada. Mas certamente existe prazer apenas tanto quanto podem derivar do comer, além do de encherem seus estômagos vazios.
Agora, pense na mãe do bebê. Imagine seu rosto radiante enquanto ela alimenta seu filho. Ela está no paraíso apenas assistindo seu filho comer saudavelmente. O bebê pode (quando muito) ficar contente, mas a mãe está cheia de alegria.
Eis o que acontece: Tanto a mãe quanto o filho se deleitam no desejo do filho pelo alimento. Mas enquanto o filho se concentra no seu próprio estômago, o prazer da mãe é infinitamente maior porque ela se delicia em doar para seu bebê. O foco dela não está em si própria, mas no filho dela.
Acontece o mesmo com a Natureza. Se soubéssemos o que a Natureza quer de nós, e realizássemos isso, sentiríamos o prazer de doar. Além do mais, nós não o sentiríamos no nível
instintivo em que as mães naturalmente experimentam com seus bebês, mas no nível espiritual de nossa adesão com a Natureza.
Em Hebraico – a língua original da Cabalá – uma intenção é chamada Kavaná. Então, o Tikkun que precisamos é colocarmos a Kavaná correta sobre os nossos desejos. A recompensa por fazer um Tikkun e possuir uma Kavaná é o preenchimento do último e maior de todos os desejos – o desejo pela espiritualidade, pelo Criador. Quando este desejo é preenchido, a pessoa conhece o sistema que controla a realidade, participa em sua construção, e conseqüentemente recebe as chaves e se senta no banco do motorista. Tal pessoa não mais experimentará a vida e a morte como experimentamos, mas irá facilmente e alegremente fluir pela eternidade em um fluxo sem fim de felicidade e plenitude, unida com o Criador.

RESUMINDO
Existem cinco níveis em nossos desejos, divididos em três grupos. O primeiro grupo é o do desejo animal (por alimento, reprodução, e por um lar); o segundo é o dos desejos humanos (por dinheiro, honra, conhecimento), e o terceiro grupo é o do desejo espiritual (o “ponto no coração”). Enquanto apenas os dois primeiros grupos estiveram ativos, nós procurávamos “domar” nossos desejos através da rotina, e suprimi-los. Quando o “ponto no coração” surgiu, as duas primeiras maneiras não mais cumpriram seu papel, e tivemos que procurar por uma outra maneira. Isto foi quando a sabedoria da Cabalá reapareceu, depois de ter sido escondida
por milhares de anos, esperando pelo momento em que seria necessária.
A sabedoria da Cabalá é o meio para o nosso Tikkun (correção). Usando-a, podemos mudar nossa Kavaná (intenção) de querermos gratificação própria, definida como egoísmo, para querermos gratificar a Natureza toda, o Criador, definida como altruísmo.
A crise global que estamos experimentando hoje é uma crise de desejos. Quando usarmos a sabedoria da Cabalá para satisfazer o último e maior desejo de todos – o desejo pela espiritualidade – todos problemas serão resolvidos automaticamente, porque a raiz deles está na insatisfação espiritual que muitos estão experimentando atualmente.

sábado, 12 de abril de 2014

CONTROLANDO DESEJOS - UM NOVO DESEJO NA CIDADE

CAPITULO II

CONTROLANDO DESEJOS
Agora que sabemos que os desejos geram o progresso, vejamos como nós os controlamos através da história. Em maior parte, nós tivemos duas maneiras de manipular os desejos:
1. Fazendo todas as coisas virarem hábitos, “domando” os desejos, ou subordinando-os a uma rotina diária;
2. Diminuindo-os e suprimindo-os.
A maioria das religiões usa a primeira opção, “marcando” cada ato com uma recompensa. Para motivar-nos a fazer o que é considerado bom, nossos tutores e aqueles à nossa volta nos recompensam com respostas positivas sempre que fazemos algo “certo”. Conforme envelhecemos, as recompensas param gradualmente, mas nossas ações tornaram-se “marcadas” em nossas mentes como recompensadoras. Logo que nos acostumamos a fazer algo, isto se torna uma segunda natureza para nós. E quando agimos de acordo com nossa natureza, sempre sentimos confortáveis com nós mesmos.
A segunda maneira de controlar nossos desejos – ao reduzi-los - é principalmente usada nos ensinamentos Orientais. Esta abordagem segue uma regra simples: Melhor não querer, do que querer e não ter, ou nas palavras de Lao-tzu (604 AC – 531 AC), “Manifeste modéstia; abrace a simplicidade; reduza o egoísmo; tenha poucos desejos” (O Caminho de Lao- tzu). Por muitos anos, pareceu-nos que estávamos prosseguindo com apenas esses dois métodos. Por mais que não obtínhamos o que queríamos – por causa da regra de que quando você obtém o que deseja, você não mais o deseja – a busca em si era gratificante. Sempre que um novo desejo surgia, nós acreditávamos que este iria certamente preencher nossos anseios. Nós ficávamos esperançosos enquanto nos mantínhamos sonhando; e onde há esperança, há vida, mesmo sem realmente realizar aqueles sonhos. Mas os nossos desejos cresceram. Eles se tornaram cada vez mais difíceis de satisfazer com sonhos irrealizados, com um Kli vazio, sem o preenchimento que era destinado a possuir. E assim, as duas maneiras – domar os desejos e reduzi-los – estão encarando um desafio maior. Quando não conseguimos reduzir os nossos desejos, não temos escolha senão buscar uma maneira de satisfaze-los. Neste estado, ou abandonamos os modos antigos, ou de algum jeito os combinamos com um novo tipo de busca.

UM NOVO DESEJO NA CIDADE

Nós dissemos que existem quatro níveis do desejo de receber: a) desejos físicos por alimento, reprodução, e família; b) riqueza; c) poder e respeito, algumas vezes separado em dois grupos distintos; e d) o desejo por conhecimento. Os quatro níveis são divididos em dois grupos: 1) os desejos animais, o primeiro nível, são compartilhados por todas criaturas; e 2) os desejos humanos, dos níveis dois, três, e quatro, que são exclusivamente humanos. O último grupo é aquele que nos trouxe a onde estamos hoje. Mas hoje existe um novo desejo – o quinto nível da evolução do desejo de receber. Como dissemos no capítulo anterior, no Livro do Zohar está escrito que ao fim do século XX um novo desejo iria aparecer. Este novo desejo não é só um outro desejo; é a culminação de todos os níveis de desejo que o precedem. Não é apenas o desejo mais poderoso, mas contém características que o diferencia de todos os outros desejos. Quando os Cabalistas falam sobre o coração, eles não estão se referindo ao coração físico, mas aos desejos dos primeiros quatro níveis. Mas, o quinto nível de desejo é essencialmente diferente. Ele quer satisfação apenas da espiritualidade, não de alguma coisa física. Este desejo é também a raiz do crescimento espiritual que alguém está destinado a experimentar. Por esta razão, os Cabalistas chamam este desejo de “ponto no coração.”

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

POR TRÁS DE PORTAS FECHADAS - A EVOLUÇÃO DOS DESEJOS

POR TRÁS DE PORTAS FECHADAS
O homem... se ele é educado insuficientemente ou de forma imprópria, ele é a mais selvagem das criaturas terrestres. (Platão, As Leis)

O conhecimento sempre foi considerado um bem. A espionagem não é uma invenção dos tempos modernos; ela existe desde a alvorada da história. Mas ela existiu porque o conhecimento sempre foi revelado na base do precisar saber, e a única disputa era sobre quem precisava saber.
No passado, os conhecedores eram chamados de “sábios,” e o conhecimento que eles possuíram era o dos segredos da Natureza. Os sábios esconderam seu conhecimento, temendo que ele pudesse cair nas mãos daqueles que eles consideravam indignos.
Mas como determinamos quem merece saber? O fato de eu ter algum pedaço de informação exclusivo me dá o direito de esconde-lo? Naturalmente, pessoa alguma iria concordar que ela não merece saber; assim nós tentamos “roubar” qualquer informação que queiramos, que não está acessível abertamente.
Mas este nem sempre foi o caso. Há muitos anos atrás, antes do egoísmo alcançar seu nível mais elevado, as pessoas consideravam o bem coletivo antes de considerar o seu próprio.
Elas sentiam-se conectadas a toda a Natureza e a toda a humanidade, e não a si próprias. Para elas, essa era a maneira natural de ser.
Mas atualmente, nossas considerações têm mudado drasticamente, e acreditamos que somos dignos de saber tudo e de fazer tudo. Isto é o que nosso nível de egoísmo dita automaticamente.
De fato, mesmo antes de a humanidade alcançar o quarto nível do desejo, eruditos começaram a vender sua sabedoria para obterem benefícios materiais como o dinheiro, a honra, e o poder. Conforme cresceram as tentações, as pessoas não mais puderam manter seu modo de vida modesto e dirigir seus esforços inteiramente à investigação da Natureza. Ao invés disso, estas pessoas sábias começaram a usar seu conhecimento para obterem prazeres materiais.
Hoje, com o progresso da tecnologia e com o maior ímpeto de nossos egos, o mau uso do conhecimento tornou-se a regra. Assim, quanto mais a tecnologia progride, mais perigoso estamos nos tornando para nós mesmos e para nosso ambiente.
Conforme nos tornamos mais poderosos, estamos mais tentados a usar nosso poder para obtermos o que queremos.
Como dissemos anteriormente, o desejo de receber consiste de quatro níveis de intensidade. Quanto mais poderoso se torna, maior o nosso declínio moral e social. Não é, então, de se surpreender que estejamos numa crise. É também bastante claro o porquê dos sábios terem escondido seu conhecimento, e o porquê do próprio egoísmo crescente deles compeli-los a
revela-lo.
Sem mudarmos a nós mesmos, conhecimento e progresso não irão nos ajudar. Eles apenas produzirão prejuízos maiores do que já temos. Portanto, seria totalmente ingênuo esperar que
o avanço científico mantenha sua promessa de uma boa vida.
Se queremos um futuro mais brilhante, precisamos apenas mudar a nós mesmos.

A EVOLUÇÃO DOS DESEJOS
A afirmação de que a natureza humana é egoísta é estranha para se fazer qualquer manchete. Mas porque somos naturalmente egoístas, somos todos, sem exceção, propensos a fazer um mau uso do que sabemos. Esta propensão não significa que usaremos nosso conhecimento para cometer um crime. Ela pode expressar-se em coisas bastante pequenas, aparentemente insignificantes, como conseguir ser promovido no trabalho enquanto não merecemos, ou afastar a pessoa amada de nosso melhor amigo para longe dele.
A verdadeira notícia sobre o egoísmo não é que a natureza humana é egoísta; é que eu sou um egoísta. A primeira vez que confrontamos nosso próprio egoísmo é uma experiência completamente esclarecedora. É como se tornar sóbrio, é uma grande dor de cabeça.
Há uma boa razão pela qual nosso desejo de receber constantemente se desenvolve, e nós iremos falar dela daqui a pouco. Mas por enquanto, vamos nos focar no papel desta evolução da maneira em que adquirimos conhecimento.
Quando um novo desejo surge, ele cria novas necessidades. E quando procuramos por maneiras de satisfazer estas necessidades, desenvolvemos e aperfeiçoamos nossas mentes. Em outras palavras, é a evolução do desejo de receber prazer que cria a evolução.
Uma olhada na história humana da perspectiva da evolução dos desejos mostra como estes crescentes desejos geraram cada conceito, descoberta, e invenção. Cada inovação, de fato, tem sido uma ferramenta que nos ajuda a satisfazer as necessidades e demandas crescentes que nossos desejos criam.

“O primeiro nível de desejo se refere a desejos físicos como o alimento, o sexo, a família, e o lar.
Estes são os desejos mais básicos, compartilhados por todas as criaturas vivas.
Diferentes do primeiro nível dos desejos, todos os outros níveis são unicamente humanos e provém de estarmos em uma sociedade humana. O segundo nível é o desejo por riquezas; o terceiro é o desejo por honra, fama e domínio, e o quarto nível é o desejo por conhecimento.”

A felicidade ou infelicidade, e o prazer ou o sofrimento dependem de como satisfazemos nossas necessidades. Mas a satisfação requer esforço. Na verdade, somos tão dirigidos pelo prazer que, de acordo com o Cabalista Yehuda Ashlag, “Uma pessoa não pode sequer fazer um movimento mínimo sem motivação... sem de alguma forma beneficiar a si próprio.”
Mais ainda, “Quando, por exemplo, alguém move sua mão da cadeira para a mesa é porque esta pessoa pensa que ao colocar a mão dela sobre a mesa ela irá receber um prazer maior. Se a pessoa não achasse isso, ela deixaria a mão dela sobre a cadeira para o resto de sua vida.”
No capítulo anterior, nós dissemos que o egoísmo é um beco sem saída. Em outras palavras, a intensidade do prazer depende da intensidade do desejo. Conforme a saciedade aumenta, o desejo proporcionalmente diminui. Assim, quando o desejo se vai, assim também se vai o prazer. O que acontece é que para gozarmos algo, nós precisamos não apenas deseja-lo, mas mantermo-nos desejando-o, ou o prazer desaparecerá.
Além do mais, o prazer não está no objeto desejado; está naquele que deseja o prazer. Por exemplo: Se eu estou louco por atum, isto não significa que o atum possui algum prazer dentro dele, mas que um prazer na “forma” de atum existe em mim.
Pergunte a qualquer atum se ele gosta da sua própria carne. Eu duvido que ele irá responder positivamente. Eu posso grosseiramente perguntar ao atum, “Mas por que você não gosta disso? Quando eu mordo um pedaço seu, ele tem um gosto tão bom... E você tem toneladas de atum! Se eu fosse você, estaria no Paraíso.”
É claro, que todos nós sabemos que este não é um diálogo realístico, e não apenas porque atuns não falam Português. Nós instintivamente percebemos que um atum não pode gostar de
sua própria carne, enquanto humanos podem gostar muito do sabor do atum.
Por que esta apreciação humana pelo sabor do atum? Porque nos temos um desejo por ele. A razão pela qual um atum não pode gostar de sua própria carne é porque ele não tem desejo por ela. Um desejo de receber específico por um objeto específico é chamado de Kli (vaso), e a recepção de prazer dentro do Kli é chamada de Ohr (Luz). O conceito de Kli e Ohr é inquestionavelmente o mais importante conceito na sabedoria da Cabalá. Quando você puder construir um Kli, um vaso para o Criador, você receberá Sua Luz.