CAPITULO III
QUATRO FASES BÁSICAS
Voltemos à nossa história. Para
pôr o pensamento de doar prazer em prática, o Criador projetou uma Criação que especificamente
quisesse receber o prazer de ser idêntica ao Criador. Se você é pai, você sabe
como isso é. Que palavras mais ternas podemos dizer a um pai orgulhoso além de,
“Seu filho é igualzinho a você!”?
Como acabamos de dizer, o
Pensamento da Criação – de doar prazer à criatura – é a raiz da Criação. Por
esta razão, o Pensamento da Criação é chamado de “Fase Raiz” ou “Fase Zero,” e
o desejo de receber prazer é chamado de “Fase Um.”
Note
que a Fase Zero é mostrada como uma seta para baixo. Onde quer que haja uma
seta apontando para baixo, o significado é que a Luz vem do Criador à criatura.
Mas o contrário não é verdadeiro: onde quer que haja uma seta para cima, não
significa que a criatura doa Luz ao Criador, mas que ela quer devolve-la a Ele.
E o que acontece quando existem duas setas apontando para direções opostas?
Continue lendo: logo você descobrirá o que isto significa.
Os Cabalistas também se referem
ao Criador como “o Desejo de Doar,” e à criatura como “o desejo de receber
deleite e prazer” ou simplesmente “o desejo de receber.” Nós falaremos sobre
nossa percepção do Criador mais à frente, mas o que é importante neste ponto é
que os Cabalistas sempre nos dizem o que eles percebem. Eles não nos dizem que
o Criador tem um desejo de doar; eles nos dizem que o que eles vêem do Criador
é que Ele tem um desejo de doar, e é por isso que eles O chamaram de “o Desejo
de Doar.” Por terem eles descoberto neles mesmos um desejo de receber o prazer
que Ele quer doar, eles chamaram a si próprios de, “o desejo de receber.”
Assim o desejo de receber é a
primeira Criação, a raiz de cada criatura. Quando a Criação, o desejo de
receber, sente que o prazer vem de um doador, ela percebe que o verdadeiro prazer
está no doar, e não no receber. Como resultado, o desejo de receber começa a
querer doar (note a seta para cima se estendendo do segundo Kli – o vaso na
figura). Esta é uma fase completamente nova – Fase Dois.
Vamos examinar o que faz desta
uma nova fase. Se olharmos para o Kli em si, nós vemos que ele não muda através
das fases. Isto significa que o desejo de receber está tão ativo quanto estava
antes. Por ter sido o desejo de receber projetado no Pensamento da Criação, ele
é eterno e nunca pode ser mudado.
Contudo, na Fase Dois o desejo de
receber quer receber prazer de doar, não de receber, e esta é uma mudança fundamental.
A grande diferença é que a Fase Dois precisa de um outro para quem possa doar.
Em outras palavras, a Fase Dois tem de se relacionar positivamente a alguém ou
a algo mais além de si própria.
A Fase Dois, que nos obriga a
doar a despeito de nosso desejo de receber essencial, é que faz a vida
possível. Sem ela, os pais não se importariam com seus filhos e a vida social
seria impossível. Por exemplo, se eu sou dono de um restaurante, meu desejo é
ganhar dinheiro, mas o inevitável é que estou alimentando estranhos pelos quais
eu não tenho interesses de longo prazo. O mesmo é verdadeiro para banqueiros, motoristas
de táxi (mesmo em Nova Iorque), e muitos outros.
Agora podemos ver porque a lei da
Natureza é o altruísmo e a doação, e não a lei do receber, mesmo que o desejo
de receber esteja na base da motivação de cada criatura, assim como na Fase Um.
A partir do momento em que a Criação obteve tanto um desejo de receber como um
desejo de doar, tudo o que acontecerá a ela virá do “relacionamento” entre
essas duas fases.
Como acabamos de mostrar, o
desejo de doar na Fase Dois a obriga a se comunicar, a buscar alguém que
precise receber. Assim, a Fase Dois agora começa a examinar o que ela pode doar
ao Criador. Afinal, para quem mais ela poderia doar?
Mas quando a Fase Dois de fato
tenta doar, ela descobre que tudo o que o Criador quer é doar. Ele
absolutamente não tem desejo de receber. Além do mais, o que a criatura pode doar
ao Criador?
Além disso, a Fase Dois descobre
que em sua essência, na Fase Um, seu verdadeiro desejo é receber. Ela descobre
que sua raiz é essencialmente um desejo de receber deleite e prazer, e não há
sequer um grama de desejo de doar genuíno dentro dela. Mas, e aqui está o xis
da questão, porque o Criador quer apenas doar, o desejo de receber da criatura
é precisamente o
que ela pode doar ao Criador.
Isto pode parecer confuso, mas se
você pensar no prazer que uma mãe obtém ao alimentar seu bebê, você
compreenderá que o bebê está na verdade doando prazer à sua mãe simplesmente
por querer comer.
Portanto, na Fase Três, o desejo
de receber escolhe receber, e assim fazendo devolve à Fase Raiz, ao Criador.
Agora temos um círculo completo onde ambos os participantes são doadores: a
Fase Zero, o Criador, doa à criatura, que é a Fase Um, e a criatura, tendo
passado pelas Fases Um, Dois, e Três, devolve ao Criador ao receber Dele.
Na Figura 1, a seta para baixo na
Fase Três indica que sua ação é a recepção, como na Fase Um, mas a seta para
cima indica que sua intenção é doar, como na Fase Dois. E novamente, ambas
ações usam o mesmo desejo de receber como nas Fases Um e Dois; isto não muda de
jeito nenhum.
Como vimos anteriormente, nossas
intenções egoístas são os motivos de todos os problemas que estamos vendo nesse
mundo. Aqui, também, na raiz da Criação, a intenção é muito mais importante que
a ação em si. De fato, Yehuda Ashlag metaforicamente disse que a Fase Três é
dez por cento receptora, e noventa por cento doadora.
Agora parece que temos um ciclo
perfeito onde o Criador conseguiu fazer a criatura idêntica a Si Próprio – um
doador.
Além disso, a criatura se delicia
em doar, assim retornando o prazer ao Criador. Mas isto completa o Pensamento
da Criação?
Não exatamente. O ato de recepção
(na Fase Um) e o entendimento que o único desejo do Criador é doar (na Fase Dois)
faz que a criatura queira estar na mesma situação, que é a Fase Três. Mas
tornar-se um doador não significa que a criatura estará na mesma situação,
assim completando o Pensamento da Criação.
Estar na situação do Criador
significa que a criatura não apenas se tornará um doador, mas terá o mesmo
pensamento que o Doador – o Pensamento da Criação. Em tal situação, a criatura
iria entender porque o ciclo Criador criatura foi iniciado, como também porque
o Criador formou a Criação.
Claramente, o desejo de entender
o Pensamento da Criação é uma fase completamente nova. A única coisa à qual podemos
comparar é a um filho que quer ser tão forte e sábio como seus pais. Nós
instintivamente sabemos que isto é possível apenas quando o filho realmente
calça os calçados de seu pai ou de sua mãe. É por isso que os pais quase sempre
dizem a seus filhos, “Espere até você ter seus próprios filhos; daí você vai
entender.”
Um
dos termos mais comuns na Cabalá é o termo Sefirot. A palavra vem da palavra Hebraica,
Sapir (safira) e cada Sefira (singular de Sefirot) tem sua própria Luz. Também,
cada uma das quatro fases é chamada pelo nome de uma ou mais Sefira. A Fase Zero
é chamada Keter, a Fase Um, Hochma, a Fase Dois, Bina, a Fase Três, Zeir Anpin,
e a Fase Quatro, Malchut.
Na verdade, existem dez Sefirot
porque Zeir Anpin é composto de seis Sefirot: Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod,
e Yesod. Portanto, o conjunto completo de Sefirot é Keter, Hochma, Bina, Hesed,
Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, Yesod, e Malchut.
Na Cabalá, o entendimento do
Pensamento da Criação – o mais profundo nível de entendimento – é chamado de “compreensão”
(Nota do Tradutor: da palavra inglesa attainment que pode significar apreensão,
obtenção, atingir, captar, absorver algo). É isso que o desejo de receber
anseia na última fase – Fase Quatro. O desejo de adquirir o Pensamento da
Criação é a força mais poderosa na Criação. Ele está por trás de todo o
processo de evolução. Estejamos nós cônscios disto ou não, o conhecimento
máximo que buscamos é o entendimento do porquê o Criador faz o que faz. É o
mesmo impulso que pressionou os Cabalistas a descobrirem os segredos da Criação
a milhares de anos atrás. Até entendermos isso, não teremos paz em nossas
mentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário