POR TRÁS DE PORTAS FECHADAS
O homem... se ele é educado insuficientemente ou de forma imprópria,
ele é a mais selvagem das criaturas terrestres. (Platão, As Leis)
O conhecimento sempre foi
considerado um bem. A espionagem não é uma invenção dos tempos modernos; ela existe
desde a alvorada da história. Mas ela existiu porque o conhecimento sempre foi
revelado na base do precisar saber, e a única disputa era sobre quem precisava
saber.
No passado, os conhecedores eram
chamados de “sábios,” e o conhecimento que eles possuíram era o dos segredos da
Natureza. Os sábios esconderam seu conhecimento, temendo que ele pudesse cair
nas mãos daqueles que eles consideravam indignos.
Mas como determinamos quem merece
saber? O fato de eu ter algum pedaço de informação exclusivo me dá o direito de
esconde-lo? Naturalmente, pessoa alguma iria concordar que ela não merece
saber; assim nós tentamos “roubar” qualquer informação que queiramos, que não
está acessível abertamente.
Mas este nem sempre foi o caso.
Há muitos anos atrás, antes do egoísmo alcançar seu nível mais elevado, as
pessoas consideravam o bem coletivo antes de considerar o seu próprio.
Elas sentiam-se conectadas a toda
a Natureza e a toda a humanidade, e não a si próprias. Para elas, essa era a
maneira natural de ser.
Mas atualmente, nossas
considerações têm mudado drasticamente, e acreditamos que somos dignos de saber
tudo e de fazer tudo. Isto é o que nosso nível de egoísmo dita automaticamente.
De fato, mesmo antes de a
humanidade alcançar o quarto nível do desejo, eruditos começaram a vender sua
sabedoria para obterem benefícios materiais como o dinheiro, a honra, e o poder.
Conforme cresceram as tentações, as pessoas não mais puderam manter seu modo de
vida modesto e dirigir seus esforços inteiramente à investigação da Natureza.
Ao invés disso, estas pessoas sábias começaram a usar seu conhecimento para
obterem prazeres materiais.
Hoje, com o progresso da
tecnologia e com o maior ímpeto de nossos egos, o mau uso do conhecimento
tornou-se a regra. Assim, quanto mais a tecnologia progride, mais perigoso estamos
nos tornando para nós mesmos e para nosso ambiente.
Conforme nos tornamos mais
poderosos, estamos mais tentados a usar nosso poder para obtermos o que
queremos.
Como dissemos anteriormente, o
desejo de receber consiste de quatro níveis de intensidade. Quanto mais
poderoso se torna, maior o nosso declínio moral e social. Não é, então, de se
surpreender que estejamos numa crise. É também bastante claro o porquê dos
sábios terem escondido seu conhecimento, e o porquê do próprio egoísmo
crescente deles compeli-los a
revela-lo.
Sem mudarmos a nós mesmos,
conhecimento e progresso não irão nos ajudar. Eles apenas produzirão prejuízos
maiores do que já temos. Portanto, seria totalmente ingênuo esperar que
o avanço científico mantenha sua
promessa de uma boa vida.
Se queremos um futuro mais
brilhante, precisamos apenas mudar a nós mesmos.
A EVOLUÇÃO DOS DESEJOS
A afirmação de que a natureza
humana é egoísta é estranha para se fazer qualquer manchete. Mas porque somos naturalmente
egoístas, somos todos, sem exceção, propensos a fazer um mau uso do que
sabemos. Esta propensão não significa que usaremos nosso conhecimento para
cometer um crime. Ela pode expressar-se em coisas bastante pequenas, aparentemente
insignificantes, como conseguir ser promovido no trabalho enquanto não
merecemos, ou afastar a pessoa amada de nosso melhor amigo para longe dele.
A verdadeira notícia sobre o
egoísmo não é que a natureza humana é egoísta; é que eu sou um egoísta. A
primeira vez que confrontamos nosso próprio egoísmo é uma experiência
completamente esclarecedora. É como se tornar sóbrio, é uma grande dor de
cabeça.
Há uma boa razão pela qual nosso
desejo de receber constantemente se desenvolve, e nós iremos falar dela daqui a
pouco. Mas por enquanto, vamos nos focar no papel desta evolução da maneira em
que adquirimos conhecimento.
Quando um novo desejo surge, ele
cria novas necessidades. E quando procuramos por maneiras de satisfazer estas
necessidades, desenvolvemos e aperfeiçoamos nossas mentes. Em outras palavras,
é a evolução do desejo de receber prazer que cria a evolução.
Uma olhada na história humana da
perspectiva da evolução dos desejos mostra como estes crescentes desejos geraram
cada conceito, descoberta, e invenção. Cada inovação, de fato, tem sido uma
ferramenta que nos ajuda a satisfazer as necessidades e demandas crescentes que
nossos desejos criam.
“O primeiro nível de desejo se refere a desejos físicos como o
alimento, o sexo, a família, e o lar.
Estes são os desejos mais básicos, compartilhados por todas as
criaturas vivas.
Diferentes do primeiro nível dos desejos, todos os outros níveis são
unicamente humanos e provém de estarmos em uma sociedade humana. O segundo
nível é o desejo por riquezas; o terceiro é o desejo por honra, fama e domínio,
e o quarto nível é o desejo por conhecimento.”
A felicidade ou infelicidade, e o
prazer ou o sofrimento dependem de como satisfazemos nossas necessidades. Mas a
satisfação requer esforço. Na verdade, somos tão dirigidos pelo prazer que, de
acordo com o Cabalista Yehuda Ashlag, “Uma pessoa não pode sequer fazer um
movimento mínimo sem motivação... sem de alguma forma beneficiar a si próprio.”
Mais ainda, “Quando, por exemplo,
alguém move sua mão da cadeira para a mesa é porque esta pessoa pensa que ao
colocar a mão dela sobre a mesa ela irá receber um prazer maior. Se a pessoa
não achasse isso, ela deixaria a mão dela sobre a cadeira para o resto de sua
vida.”
No capítulo anterior, nós
dissemos que o egoísmo é um beco sem saída. Em outras palavras, a intensidade
do prazer depende da intensidade do desejo. Conforme a saciedade aumenta, o
desejo proporcionalmente diminui. Assim, quando o desejo se vai, assim também
se vai o prazer. O que acontece é que para gozarmos algo, nós precisamos não
apenas deseja-lo, mas mantermo-nos desejando-o, ou o prazer desaparecerá.
Além do mais, o prazer não está
no objeto desejado; está naquele que deseja o prazer. Por exemplo: Se eu estou
louco por atum, isto não significa que o atum possui algum prazer dentro dele,
mas que um prazer na “forma” de atum existe em mim.
Pergunte a qualquer atum se ele
gosta da sua própria carne. Eu duvido que ele irá responder positivamente. Eu
posso grosseiramente perguntar ao atum, “Mas por que você não gosta disso?
Quando eu mordo um pedaço seu, ele tem um gosto tão bom... E você tem toneladas
de atum! Se eu fosse você, estaria no Paraíso.”
É claro, que todos nós sabemos
que este não é um diálogo realístico, e não apenas porque atuns não falam
Português. Nós instintivamente percebemos que um atum não pode gostar de
sua própria carne, enquanto
humanos podem gostar muito do sabor do atum.
Por que esta apreciação humana pelo sabor do atum? Porque nos temos um desejo por ele. A razão pela qual um atum não pode gostar de sua própria carne é porque ele não tem desejo por ela. Um desejo de receber específico por um objeto específico é chamado de Kli (vaso), e a recepção de prazer dentro do Kli é chamada de Ohr (Luz). O conceito de Kli e Ohr é inquestionavelmente o mais importante conceito na sabedoria da Cabalá. Quando você puder construir um Kli, um vaso para o Criador, você receberá Sua Luz.
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