CAPITULO V
1-DE QUEM A REALIDADE É A REALIDADE
“Todos os mundos, superiores e
inferiores, estão dentro de nós”
Yehuda Ashlag
De todos os conceitos inesperados
encontrados na Cabalá, nenhum é tão surpreendente, e tão irracional, mas mesmo
assim, tão profundo e fascinante quanto o conceito de realidade. Se não fosse
por Einstein e pela Física Quântica, que revolucionaram a maneira de pensar
sobre a realidade, as ideias apresentadas aqui teriam sido anuladas e
ridicularizadas.
No capítulo anterior, dissemos que a
evolução ocorre porque nosso desejo de receber prazer progride do nível Raiz ao
Quarto nível. Mas se nossos desejos propeliram a evolução de nosso mundo,
então, existe o mundo verdadeiramente fora de nós? Poderia ser que o mundo à
nossa volta seja na verdade apenas um conto no qual desejamos acreditar?
Nós dissemos que a Criação começou do
Pensamento da Criação, que criou as Quatro Fases Básicas da Luz. Estas fases
incluem dez Sefirot: Keter (fase
zero), Hochma (fase um), Bina (fase
dois), Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah,
Hod, e Yesod (todas quais compreendem a fase três – Zeir Anpin), e Malchut (fase
quatro).
O
Livro do Zohar,
o livro que todo Cabalista estuda, diz que toda a realidade consiste apenas de
dez Sefirot. Tudo é feito de
estruturas destas dez Sefirot. A
única diferença entre elas é quão profundamente elas estão imersas em nossa
substância – o desejo de receber.
Para entender o que os Cabalistas querem
expressar quando dizem que “elas estão imersas em nossa substância,” pense numa
forma, digamos uma bola pressionada contra um pedaço de plasticina ou um outro
tipo de massa de modelar. A forma representa um grupo de dez Sefirot, e a massa
representa a nós, ou nossas almas. Agora, mesmo se você pressionar a bola
profundamente contra a massa, a bola em si não mudará. Mas quanto mais fundo a
bola é imersa na massa, mais a massa é mudada por ela.
Como isto é percebido quando os
elementos são um grupo de dez Sefirot e uma alma? Você alguma vez subitamente
notou alguma coisa que sempre esteve à sua volta, só que agora um certo aspecto
dela roubou sua atenção? Isto é similar à sensação das dez Sefirot afundando
apenas um pouco mais no desejo de receber. Em termos simples, quando subitamente
percebemos alguma coisa que não tínhamos percebido antes, é porque as dez
Sefirot foram um pouco mais fundo em nós.
Os Cabalistas têm um nome para o desejo
de receber – Aviut. Aviut na
realidade significa espessura, e não desejo. Mas eles usam este termo porque
quanto maior o desejo de receber, mais camadas são adicionadas a ele.
Como dissemos, o desejo de receber, a
Aviut, consiste de graus básicos – 0, 1, 2, 3, 4. Conforme as dez Sefirot
imergem mais fundo nos níveis (camadas) de Aviut, elas formam uma variedade de
combinações, ou misturas do desejo de receber com o desejo de doar. Estas
combinações criam tudo que existe: os mundos espirituais, os mundos corpóreos,
e tudo que existe dentro deles.
As variações em nossa substância (desejo
de receber) criam nossas ferramentas de percepção, chamadas de Kelim (plural de
Kli). Em outras palavras, toda forma, cor, cheiro, pensamento – tudo que existe
– está lá porque dentro mim existe um Kli apropriado para percebe-lo.
Assim como nossos cérebros usam as
letras do alfabeto para estudarem o que este mundo tem a oferecer, nossos Kelim
usam as dez Sefirot para estudarem o que os mundos espirituais têm a oferecer.
E assim como estudamos este mundo sob certas
leis e restrições, para estudarmos os
mundos espirituais precisamos conhecer as leis que definem aqueles mundos.
Quando estudamos alguma coisa no mundo físico,
precisamos seguir determinadas leis. Por exemplo, para alguma coisa ser
considerada verdadeira, ela necessita ser testada
empiricamente. Se os testes mostrarem
que ela funciona, ela é considerada correta, até que alguém mostre – em testes,
não em palavras – que ela não funciona. Antes de alguma coisa ser testada, ela
não passa de uma teoria.
Os mundos espirituais têm limites também
– três limites, para ser exato. Se pretendemos alcançar o propósito da Criação e
nos tornarmos como o Criador, precisamos nos ater a estes limites.
2-TRÊS LIMITES NA APRENDIZAGEM DA CABALÁ
2.1-PRIMEIRO LIMITE – O QUE PERCEBEMOS
Em seu Prefácio ao Livro do Zohar, o
Cabalista Yehuda Ashlag escreve que existem “quatro categorias de percepção – a
Matéria, a Forma na Matéria, a Forma Abstrata, e a Essência.” Quando examinamos
a Natureza espiritual, é nossa tarefa decidir quais destas categorias nos
provêem com informação sólida e confiável, e quais não.
O Zohar opta por explicar apenas as duas
primeiras. Em outras palavras, cada palavra nele é escrita ou da perspectiva da
Matéria ou da Forma na Matéria, e nele não há nenhuma palavra sequer da
perspectiva da Forma Abstrata ou da Essência.
2.2-SEGUNDO LIMITE – ONDE PERCEBEMOS
Como dissemos antes, a substância dos mundos
espirituais é chamada de “a alma de Adam ha Rishon.” É assim que os mundos
espirituais foram criados. Contudo, nós já passamos pela criação destes mundos,
e estamos no nosso caminho de subida aos níveis superiores, mesmo que nem
sempre pareça que é assim.
Em nosso estado, a alma de Adão já se
partiu em pedaços. O Zohar ensina que a vasta maioria dos pedaços, 99 por cento
para ser exato, foi espalhada pelos mundos de Beria, Yetzira, e Assiya (BYA), e
o um por cento restante subiu para Atzilut.
Pelo fato da alma de Adão formar o
conteúdo dos mundos BYA e por ter sido espalhada por estes mundos, e por todos
nós sermos partes daquela alma, claramente todas as
coisas que percebemos podem ser partes
apenas destes mundos. Tudo o que percebemos vindo de mundos superiores a BYA,
como Aztliut e Adam Kadmon, é impreciso por essa razão, quer pareça assim para
nós, quer não. Tudo o que podemos perceber dos mundos de Atzilut e Adam Kadmon
são seus reflexos, ao serem vistos através dos filtros dos mundos de BYA.
Nosso mundo está no degrau mais baixo
dos mundos de BYA. De fato, este degrau é completamente oposto em natureza ao
restante dos mundos espirituais, e é este o porquê de nós não os sentirmos. É
como se duas pessoas estivessem de costas uma para a outra e caminhando para
direções opostas. Quais as chances de alguma vez encontrarem uma a outra?
Mas quando corrigimos a nós mesmos,
descobrimos que já estamos vivendo dentro dos mundos de BYA. No final, até mesmo,
ascenderemos com eles para Atzilut e para Adam Kadmon.
2.3-O TERCEIRO LIMITE – QUEM PERCEBE
Mesmo O Zohar adentrando em grandes
detalhes sobre o conteúdo de cada mundo e do que acontece lá, como se houvesse
um local físico onde as coisas ocorrem, ele está na
verdade se referindo apenas às
experiências das almas. Em outras palavras, ele se refere a como os Cabalistas
percebem as coisas, e nos conta de tal forma, que nós também, possamos experimenta-las.
Então, quando estamos lendo no Zohar sobre eventos nos mundos de BYA, nós
estamos na verdade aprendendo sobre como Rabi Shimon Bar-Yochai (autor do Livro
do Zohar) percebeu os estados espirituais, pela narrativa de seu filho, Rabi
Abba.
Assim também, quando os Cabalistas
escrevem sobre os mundos acima de BYA, eles não estão na verdade escrevendo sobre
aqueles mundos especificamente, mas sobre como os escritores perceberam aqueles
mundos enquanto estavam nos mundos de BYA. E porque os Cabalistas escrevem
sobre suas experiências pessoais, existem similaridades e diferenças em escritos
Cabalísticos. Parte do que eles escrevem se refere à estrutura geral dos
mundos, como os nomes das Sefirot e dos mundos. Outras coisas se referem a
experiências pessoais que eles tiveram nesses mundos.
Por exemplo, se conto a um amigo sobre minha
viagem à Nova Iorque, eu posso falar sobre a Times Square ou sobre as grandes
pontes que conectam Manhattan ao continente. Mas também posso falar sobre quão
minúsculo me senti ao dirigir pela grandiosa Brooklyn Bridge, e como é ficar no
meio da Times Square, engolido pelo deslumbrante show de luzes, cores, e sons,
e pela sensação de total anonimato. A diferença entre os primeiros dois
exemplos e os dois últimos é que na última dupla eu estou relatando minhas
experiências pessoais, e nos dois primeiros exemplos, estou falando das
impressões que cada pessoa experimentará quando for a Manhattan, embora cada
uma as experimentará diferentemente.
Quando falamos sobre o Primeiro Limite,
dissemos que O Zohar fala apenas das perspectivas da Matéria e da Forma na Matéria.
Dissemos que a Matéria é o desejo de receber, e a Forma na Matéria é a intenção
pela qual o desejo de receber de fato recebe – ou para mim ou para os outros.
Em termos mais simples: Matéria – desejo de receber; Forma = intenção.
É imperativo lembrar que O Zohar não deve ser tratado
como um relato de eventos místicos ou uma coleção de contos. O Zohar, como
todos os outros livros de Cabalá, deve ser usado como uma ferramenta de aprendizado.
Isto significa que o livro irá ajuda-lo apenas se você, também, quiser
experimentar o que ele descreve. De outra forma, o livro será de pouca
utilidade para você, e você não o entenderá.
Lembre-se disso: O entendimento correto da
escrituras Cabalísticas depende da sua intenção enquanto as lê, da razão pela qual
você as abriu, e não do poder de seu intelecto. Apenas se você quiser ser
transformado nas qualidades altruístas que o texto descreve, o texto afetará você.
A Forma da doação por si própria, é
chamada de “o mundo de Atzilut.” A doação em sua Forma Abstrata é o atributo do
Criador; é totalmente desconexa das criaturas, que
são receptoras por sua natureza.
Contudo, as criaturas (pessoas) podem envolver o desejo de receber delas com a
Forma da doação, para que se assemelhe à doação. Em outras palavras, podemos
receber, e ao fazermos assim realmente nos tornamos doadores.
Existem duas razões pelas quais não
podemos apenas doar:
1. Para doar, é preciso existir alguém
que queira receber. Contudo, além de nós (as almas), há apenas o Criador, que
não tem necessidade de receber nada, pois Sua natureza é doar.
Conseqüentemente, a doação não é uma opção viável para nós.
2. Não temos desejos por isso. Não
podemos doar porque somos feitos de um desejo de receber; a recepção é a nossa
substância, nossa Matéria.
http://projetoalquimia.wordpress.com/2012/03/13/kabalah/